Poetas – Pessoas Negras/Pretas

Poetas – Pessoas Negras/Pretas

Poetas - Pessoas Negras/Pretas

A categoria Poetas – Pessoas Negras/Pretas reúne escritores e escritoras que representam a riqueza da poesia e da cultura negra. Aqui, destacamos poetas negras e pretas que traduzem em versos suas experiências, histórias e tradições. Descubra autores contemporâneos que celebram a identidade, a luta e a contribuição da comunidade negra para a literatura brasileira.

Adriene Cruz

Adriene Cruz é natural de Varginha-MG, Especialista em Produção Textual, Licenciada em Letras – Português, atua como Professora na Educação Básica. Autora do livro Paisagens Interiores – Editora TAUP. Acredita no poder da escrita como uma das formas de cura das emoções.

Poesia

Mulher de Março

Eu não tenho culpa
Ninguém tem culpa
Sou como sou

Pertenço à família dos Sentimentos
Meu sobrenome é Intensidade.

Me ame ou me deixe
A escolha é sua
Mas não me peça
Para dissimular o que sinto.

Meu corpo conduz as águas
Que dos meus olhos escorrem lentas, fluidas.
Que no meu interior,
Quando querem amar
Revolvem-se como as ondas do mar…
Frescor
Repouso
Regalo

O que toca minha pele
Também vibra em minha alma

Assim,
Sou como sou

Pertenço à família dos Sentimentos
Meu sobrenome é Intensidade.

Alexandre Paim

Nascido e criado entre Amélia Rodrigues e Feira de Santana, Bahia. Alexandre Paim é graduando em Psicologia na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), estudante de Teatro e de Técnica Vocal no Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA/UEFS), formação em andamento em Análise do Comportamento Clínica no Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC).

Poesia

quando a chuva passar

três luzes queimadas, minha mãe preocupada, desconforto gastro-cardíaco;
selas e botas, distância quadrada – odeio ver o brilho do azul entre os oitis.
mesmo assim, vi cada gosto seu no corpo de um semideus virtual. como pôde me abraçar planejando voar entre as flechas dele?
meu pai no whatsapp com a incredulidade: o destrono não me tornou indolor.
tua inocência fajuta combinou com a minha surdez conveniente; só não fui competente em isolar variáveis estranhas no meu experimento contra-ético.
invalidado pelo teu afã por homens símeis, ensimesmado e compadecido, não esteticamente envolvido… eu queria te dar um tiro.
meu primo te refere em sorrisos e eu, acovardado, me esquivo; sua misericórdia já me penitencia.
não vou explicar o que houve porque algo não se há de ter havido para que não empreendesse esforço ou arrependimento.
capitães de areia na sua estante e meu prólogo empoeirado em caneta vermelha – você nunca lerá!
eu rezo em dilúvio que meu quarto, meu vinho e meu sangue te manchem, que meu canto te atormente, que meus versos te arrebentem…
que mergulhe e se afogue e eu lhe salve a vida com a mesma letargia que você tirou a minha.

Anizio Vianna

Anízio Vianna é poeta e letrista. Publicou oito livros, o mais recente é a plaquete “Desalarmes, escritos de paz” (TAUP). Recebeu o prêmio Cidade de Belo Horizonte com o livro “Dublê de Anjo” (Mazza). Teve seus textos publicados na Espanha, Peru e Portugal.

Poesia

Litígio

você me acena se queixa se despe
teu problema é quando a gente regressa
tudo tem no máximo um brilho
mas você quer quase sempre o cometa

você me tem como uma pessoa tão linda
— no cinema eu seria o mocinho —
tudo bem você já filmou sua cena
mas o real é a nossa vida pequena

só no sexo é que a gente se ajeita
no teu plexo pousou borboleta
mas tem vezes que somos estranhos:
o real não empresta o que somos

você me atrela ao normal e à cela
traduz pro meu sangue a tua beleza
no canal sempre o mesmo programa
— desconversa a novela e me ama —

você me dá o silêncio da véspera
quando o tempo era a fortaleza
e desconversa os problemas de sempre
e mutante muda a minha linguagem

Carlos Roque

Arquiteto. Participou do grupo de poesia Núcleo de Convivência Literária e do Grêmio de Haicai Caminho das Águas. Em 2019 participou da coletânea 8 POETAS – POESIA AO INFINITO e disponibilizou na web o livro RIO DE POUCOS JANEIROS – VINTE E CINCO POEMAS E UMA PÁGINA EM BRANCO, dedicado à Marielle Franco. Em 2022 lançou o livro de poesia ENQUANTO O MUNDO e em 2024 pela Editora TAUP, o livro de poesia QUANDO ERA.

Poesia

GEOGRAFIA

E o que vale
             montanha
             rio
             córrego
             colina e mesa farta
             planalto
             península
             baixada
             ilha
             planície e garganta falha
             talvegue
             enseada
             baía
             golfo e barra funda
             serra
             chapada
             mar
             e atlântico
nesta terra
de muitos acidentes
mesmo quando é estreito
mesmo quando temos pouco istmo
na cava profunda da depressão
é chegar ao sul
ao ponto mais distante
e saber
que não estamos longe o bastante.

PAISAGEM TRANSVERSAL

Olha para longe
e vê         o que eu não vejo
vejo apenas um gato           negro
visto por olhos                      não negros
que não me vêm
olhando para longe        e vendo
                                                 a qualquer preço
o que eu não vejo
e espero                                 negro
que o gato se vire                 em outro
e veja 
olhos bem abertos
quem não me vê
enquanto conduz
através da janela aberta        cega de tanta luz
a esperança  verde                 de um único olhar
de qualquer cor
a me atravessar                      norte a sul
até conseguir chegar             ponto de vista e fuga
aqui e ali
aonde deveria estar
mais um pouco                      dois ou três passos
                                                  lá e além
até conseguir
enfim ao fim                           das íris negras
chegar
a bombordo de mim.
Cidinha da Silva

Cidinha da Silva é escritora e doutora em Difusão do Conhecimento. Autora de 22 livros, entre eles os premiados “Um Exu em Nova York” e “O mar de Manu”. Tem traduções em catalão, espanhol, francês, inglês e italiano. É cronista do jornal Rascunho. Seu livro mais recente é “Vamos falar de relações raciais? Crônicas para debater o antirracismo” (Autêntica, 2024).

Poesia

Chuva

Ontem chovi
Era chumbo
A nuvem que me matava
Chovi mágoa
Contrita
Ebó despachado na praça
Na encruza do tempo perdido
Chovi no pântano dos afogados
Mangue de dor
Sem flor que nasça
Chovi o amor guardado
Tudo é morte
Tudo é renovação
Só por chover
Amor
Vivo

Cíntia Colares

Cíntia Colares (Flor de Lótus) é mulher preta cis, jornalista, poeta, coautora em coletâneas de poesia, mãe solo de um adolescente negro, mora na periferia de Porto Alegre/RS.

Poesia

Reconstruindo

Escrevo
para tentar mudar
o que recebo dessa vida.

Escrevo
porque não aceito
essa vida que insistem
em jogar em cima de mim.

Tão pesada
que estou sempre
prestes a ser soterrada.

Às vezes essa vida
me faz sumir.

Depois arremesso
esses escombros
para longe

E vou me reconstruindo
pelo caminho.

Não dá tempo de esperar cicatrizar.

De Florianópolis, explora a complexidade do mundo com olhar crítico e humor sutil. Trabalha com Inovação e Engenharia do Conhecimento, pesquisando sobre tecnologia e saberes. Tem artigos científicos e obras em diferentes mídias, e também edita a publicação Dedálicos Inventos no Medium.

Poesia

A sinalética da vida

a sinalética da vida está em obras
desvio à esquerda depois do beco sem saída
contradictio in adjectis
a shoppinização da ciência vende ômega 3 em cápsula softgel para memória que falha
um monofisismo diário
desamor, angústia e ansiedade numa só substância cinza
impossível de separar
o tomismo dos manuais não contempla essa heresia
a megamáquina planta mais uma pobreza bonsai
poda poda poda
qualquer ambição contida no vaso de 30 centímetros quadrados
o consumo conspícuo grassa
enquanto o lixeiro passa
e vê o contraste padrão
repito o tetrapharmakos sem muita convicção
é só mais um exercício de ser rápido no que é fugaz
em pensamento autotélico ou tentativa de distração
a tecnolatria promete o upload da consciência
para continuarmos artífices da nossa própria sujeição
mas não vão me matar agora
ah não
ainda tenho boletos a pagar
e ir no mercadinho comprar
mais torpor em promoção

O coletivo de escritores Insurgências Literárias surgiu após o evento “Sextas Culturais, Artes Presentes no Campus XI: Sarau Poético” na UNEB – Campus XI, Serrinha/BA, quando se percebeu a necessidade de dar visibilidade à produção literária regional. Fundado em 7 de julho de 2023, o grupo busca compartilhar, valorizar e divulgar escritores locais, promovendo a literatura e incentivando novos talentos.

Poesia

Eu sou resistência

Quando me veem na luta
e gritam: “guerreira!”,
sinto o peso do cansaço, o descompasso,
a bagagem do mundo inteiro.

Anseio o descanso, o silêncio,
abraços que não me exijam coragem.
Mas afeto, amor, acalento.
Desejo ser humana!

Quero olhar no espelho e enxergar dentro da alma,
sentir que nada mais me falta.
Olhar pro presente e poder ser quem sou!
Sem amarras e armaduras, curadas as feridas,
sentindo o sabor da justiça.
Só assim poderei descansar!

Caindo, mas levantando, desfaço a tradição
de que minha cor não tem valor.
Mas não deixarei de lutar, por espaço, voz, direito,
Por respeito!

Afinal, é minha sina!
Jamais desistir, por determinação ou desobediência,
Sigo quebrando com a discriminação.
A minha arte é potência.
Eu sou resistência!

Educador, atuante em movimentos sociais e culturais buscando as vozes das periferias e minorias. Expressivo através das artes promovendo a essência das humanidades e sociedades. Submergido em versos e rimas… a; in; en-cultural? Multicultural!!

Instagram @leo.agomez

Poesia

Mundos

Uma História
são histórias
e estórias
verdades
visões
versões
interpretações
intenções
impressões
e expressões
De tudo
de todos
de si
do outro
da forma
deforma
desforma
reforma
conforma
com forma
informa
pra alguém
pra si
pro outro
pra quem?
Uma História…

Filha do interior e criada pelos muitos cantos do Brasil. Sua poesia revela uma percepção profunda do mundo, que se entrelaça à complexidade do ser, transitando entre o delírio e a lucidez.

Poesia

Sou mar

Na maré baixa
Compartilho meus segredos
Minhas dores, meus medos

Sou beleza
Sou lazer
Sou alegría

Lua Nova,
Sou força,
Mistério e euforia

Guardo desejos,
Escondo segredos,
Que ecoam em minha cantoria

Sou fonte de fé,
De coragem,
De vida abundante e sabedoria.

Sou mar
Sou do mar
Sou maresia.

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