Poetas de Pernambuco

Poetas de Pernambuco

Poetas de Pernambuco

A categoria Poetas de Pernambuco reúne escritores e escritoras que representam a poesia e a cultura de Pernambuco. Aqui, destacamos poetas pernambucanos que traduzem em versos a riqueza cultural, as histórias e as tradições de Pernambuco. Descubra escritores contemporâneos que nasceram ou se radicaram em Pernambuco, celebrando a essência literária desse Estado tão vibrante.

Hevi Livre

Hevi Livre é natural de Recife. Graduada em Ciências pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Detém um olhar observador e atento às complexidades das relações humanas e sua relação íntima com psiquê humana. Sua paixão pelas palavras e pela literatura permite a transmutação de sua observação em poemas belos e ricos de significados.

Poesia

ÚLTIMO ATO

É causticante o jugo que incide sobre minha ancestralidade
Meu corpo marcado é apontado pela chancela do poder
Condenado pelo disparate de ousar ser
E ser petulantemente orgulhoso do distintivo da raça
Este que me borbulha o sangue nas veias
Você, embranquecido gradualmente em sangue, suor e lágrimas
Sobretudo afeito ao recalque da etiqueta marrom
Qual tom de pele não se veste
Frivolamente se reveste ao intencionar com manejo
O resgate do poderio armado sob o qual nos vergamos aprisionados
Depara-se decepcionado com a bravura arguta
Insolente desenvoltura de resistência digna
Fecundada na fé, no axé, na alegria pulsante de nossas almas
É teu último ato e o teatro está lotado
O tom da pele que te laqueia, clareia
Nu é um retrato devastado
Em cima do palco montado pela comicidade
Com a qual caminhamos até o resgate
De nossa face
Na nossa arte
Nosso espetáculo de vida
Para todo pertencer que não se abate

Maria José de Melo é natural de São Caitano, município do Agreste de Pernambuco e atualmente reside em Jaboatão dos Guararapes (PE). É escritora, geógrafa, colunista e poetisa. Autora do livro: A Renda Fundiária na transposição do Rio São Francisco (Índica/2021) e A Jitirana Poética (Toma Aí Um Poema/2023).

Poesia

RECIFE DO MANGUE BEAT

Recife é a Veneza Brasileira
Com suas belas pontes
Expendida na beleza
Do encontro do rio com o mar
Recife, berço cultural na tradição nordestina
Nas veredas da poesia popular
Ela é braba e regional

Recife, na inconformidade de uma cidade lama
Na insularidade social, fez-se ilha e desigualdade
Recife se fez ponte sobre o mangue
Enaltecido no ritmo, no som e na melodia
Do Mangue Beat

O caranguejo com cérebro
Anunciou miséria e caos
Fruto de um movimento vivo
O manifesto que misturou o tradicional com o moderno
Assim, Recife deixou de ser marasmo cultural

Recife, poesia viva
No circuito regional e universal de
Naná Vasconcelos, Luiz Gonzaga, Ariano Suassuna,
Clarice Lispector, Celina de Holanda,
Joaquim Cardoso e cia
Assim, nossa identidade nos faz regionalista.

Com graduação em Letras e pós em Escrita Criativa, Marison Ranieri tem publicações em revistas literárias e acumula seleções em prêmios literários e antologias. Em 2024, publicou “Meu corpo é lar de absurdos” pela Editora Flyve. Sua escrita quase sempre se mistura ao mormaço de Recife.

Poesia

No espaço, ninguém pode te ouvir rimar

Anos-luz diante de mim,
Se houvesse quem ouvisse,
Até a sinapse ecoaria
E mais alto eu pensaria
Se alguém reclamasse.
Se houvesse quem ouvisse,
E quisesse meu mal, faminto,
Com forquilhas de afeto,
Eu percorreria galáxias frente e verso,
Posto que não sou extinto.
Se houvesse quem ouvisse,
Eu saudaria este canalha
Com as mãos na garganta,
E o detestaria com o amor de um pai
Que atira os piores adjetivos ao filho,
Mas jamais o abandonaria,
Pois sabe que o silêncio,
Este buraco negro,
Devora mais que o ódio.

Túlio Velho Barreto escreve e publica poemas desde os anos 1980. Já participou de dezenas de coletâneas e antologias e, recentemente, publicou o livro Do Estar No Ainda – Haikais (Patuá, 2022). No ano passado, o seu livro Verso em Cordas Primas (Helvetia Éditions), premiado no VIII Festival de Poesia de Lisboa, foi lançado em Portugal e no Brasil.

Poesia

MÁQUINA DE ESCREVER

[Impassível]
Diante de mim pareces esconder segredos
a revelar – tarde ou cedo – o que não se sabe.
Antes do fim.

[O suave toque]
No deslizar dos dedos sobre a matéria
escreves a palavra séria que nunca se prende.
Nem se perde.

[No mesmo som]
Repetido em cada movimento faz-se
então a marca na face do branco absoluto.
Como um rito.

[Resultado:]
Em linhas retas apoia-se a musculatura
do escriba. E os traços espalham-se plenos.
Em mil planos.

[Poema e prosas]
As palavras que ali pousam vão até onde
as mãos alcançam quando a mecânica para.
E então calas.

Vanessa Valentim é docente, licenciada em Letras, especialista em fonética e fonologia, mestranda em Literatura em Língua Estrangeira e Literatura Comparada. Educadora, pesquisadora e inquieta. Amante dos seres vivos. De pequena queria ser professora, brincava de dar aulas, ensinava suas pequenas sabedorias.

Poesia

Quando o telefone vibra

Um chá preto
descansa na xícara com desenho de um elefante.
O telefone vibra insistentemente.

Tocar jamais,
essas musiquinhas
não combinam com a rotina já estridente.

Notícia que chega vibrando
segue vibrando e ecoando
do estômago até o pescoço.
Harmoniza com aquele retrogosto
amargo da infusão esquecida.

O sofrimento flutua,
não sabe nadar.

A única boia;
respirar.

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