Poetas Autistas

A categoria Poetas Autistas destaca poetas brasileiros autistas que trazem suas experiências e perspectivas únicas para a poesia. Descubra suas obras e como suas vozes contribuem para a diversidade e a riqueza da literatura contemporânea.
- Mulher, Pessoa Autista, Pessoa com Deficiência, Pessoa com Experiência de Violência Sexual, Pessoa de Origem Latino-Americana, Pessoa Gorda, Pessoa LGBTQIA+, Pessoa Neurodivergente, poeta contemporâneo, poeta vivo, Rio de Janeiro
Nascida em 2002, no Rio de Janeiro. Algumas coisas me definem: uma longa batalha contra a doença mental, a sobrevivência às violências sexuais, e a deficiência. Não mais do que tudo e todos que amo. Sinto saudade. Ponto. Saudade de tudo. Aquele misto de afeto com dor, sabe? Acho que se eu fosse um sentimento, é este que eu seria. Talvez, eu já seja. Candura — uma história de sobrevivência feminina, é seu livro de estreia (TAUP, 2025).
só vou morrer
depois que
uma voz gasta
rouca
e sem dono
escorrer boca afora
a mesma boca
que quando esperava um primeiro beijo
foi usada de tantas outras maneiras
e ficou com um não regurgitado na garganta
sem cuspe
que esta boca
espante toda
palavra morta
e parte imunda
que entala como grão de areia após a praia
em quinas sombrias da sala de estar
vou urrar até a dor se render
até minha voz virar eco
e eu rasgar
cada caco de mim
que se culpa
por homens que tomam corpos
e brotam dores
só saio dessa vida
com a garganta em carne viva
- Ceará, Homem Gay, Pessoa Autista, poeta contemporâneo, poeta vivo
Ari Arcilio Carneiro Sales de Albuquerque Júnior, Arcilio Sales, 42 anos, iniciou suas aventuras na poesia aos 10 anos e não parou mais de escrever. Define-se como a paixão que não cessa por tudo o que vive.
Alma de Poeta
No desdobrar do destino,
Joga suas folhas pelo caminho
E o vento embeleza seus passos
Em meio a histórias e devaneios.
Hoje fora andarilho,
Queda d’água a molhar-se
Na imensidão de pensamentos,
Coração ávido de desejos.
Ontem se fez conciso,
Calculando o elixir
Das poções que distribuíra
Aos amantes em busca de sonhos.
Amanhã metamorfose-á
Em bicho pequenino
Buscador dos menores espaços,
Fuçador de tudo que é diminuto.
Prepara sua tinta,
E no desdobrar dos caminhos,
Suas folhas se lançam,
Junto à alma do poeta.
- Mulher, Pessoa Autista, Pessoa Neurodivergente, poeta contemporâneo, poeta vivo, Rio de Janeiro
Luciana Quintão de Moraes (1993) é poeta, revisora e tradutora literária, graduada em Letras (UNIRIO). Integra os coletivos “Fazia Poesia” e “Escreviventes”, pesquisa o figurativo do inominável e o hibridismo nas artes. Presente em diversos projetos poéticos. Tentei chegar aqui com estas mãos foi seu primeiro livro. Flor de sangue é o segundo.
Under the gun
1. Projétil – laço mortal
A bela palavra é animal.
Esta, que entranhada no
excesso de doce /olhar canino/
em diálogo com /um inferno musical
Diânico/ em sua árvore em reverberação, vibra.
2. Projétil – cinquenta e nove porcento
__A ilógica relação fundamental com todas as coisas.
__Um lugar cintilante.
__ De onde vem a palavra?
3. Projétil – figura da ausência
Uma frase raspada por vó
para um licor de pequi.
Tal história replicada em si,
por vir da morte de mãe.
Somos o que ficou salvo no arquivo:
4. Projétil – oculto
Vivemos por amor. E já sou um labirinto. Para respirar.
Também tenho esta doença.
No líquido amniótico de nossa origem____
Tome a minha concha, no mirante e no
tumulto, e não aceite um prazo.
5. Projétil – amor do gesto
Somos o tempo do Agora, onde tudo Finda,
No meio do labirinto que recebo em sua
Concha, e vivo por Amor, no lar da Perda Pétrea,
pela beleza Rara, nesse Labirinto;
- Mulher, Pernambuco, Pessoa Autista, Pessoa com Deficiência, Pessoa Neurodivergente, poeta contemporâneo, poeta vivo
Maria José de Melo é natural de São Caitano, município do Agreste de Pernambuco e atualmente reside em Jaboatão dos Guararapes (PE). É escritora, geógrafa, colunista e poetisa. Autora do livro: A Renda Fundiária na transposição do Rio São Francisco (Índica/2021) e A Jitirana Poética (Toma Aí Um Poema/2023).
RECIFE DO MANGUE BEAT
Recife é a Veneza Brasileira
Com suas belas pontes
Expendida na beleza
Do encontro do rio com o mar
Recife, berço cultural na tradição nordestina
Nas veredas da poesia popular
Ela é braba e regional
Recife, na inconformidade de uma cidade lama
Na insularidade social, fez-se ilha e desigualdade
Recife se fez ponte sobre o mangue
Enaltecido no ritmo, no som e na melodia
Do Mangue Beat
O caranguejo com cérebro
Anunciou miséria e caos
Fruto de um movimento vivo
O manifesto que misturou o tradicional com o moderno
Assim, Recife deixou de ser marasmo cultural
Recife, poesia viva
No circuito regional e universal de
Naná Vasconcelos, Luiz Gonzaga, Ariano Suassuna,
Clarice Lispector, Celina de Holanda,
Joaquim Cardoso e cia
Assim, nossa identidade nos faz regionalista.
- Mulher, Pessoa Autista, Pessoa Negra/Preta, Pessoa Neurodivergente, poeta contemporâneo, poeta vivo, Rondônia
Escritora, Poetisa, Colagista Manual, Mãe atípica, Autista, Servidora Pública do Estado de Rondônia, Formada em Matemática e Letras Inglês e suas respectivas Literaturas, Mediadora de Biblioterapia, Mestra em Engenharia de Energia, Criadora da página @partilharpoesia, Michele Magalhães é uma mulher múltipla.
rio em mim
entro na água
o rio mergulha
em mim
unidos
somos
um
sigo sem rumo
pelas linhas
paralelas
destes caminhos
tortuosos,
onde me
reencontro
com quem
sempre fui
corpo repleto de
alma-coragem
em busca da cura
eu-me encontrei
me deixo levar pela correnteza
meu corpo ser levado pelas águas
minha alma ser lavada pelas águas
me sinto mais leve
- Mulher, Pessoa Autista, Pessoa com Deficiência, Pessoa de Origem Latino-Americana, Pessoa LGBTQIA+, Pessoa Neurodivergente, poeta contemporâneo, poeta vivo, Rio de Janeiro
Nina Carneiro é poeta, compositora e artista autista. É autora dos livros “Devaneio Coerente” (Filos, 2021) e “No limiar do espectro” (Filos, 2024), e também conduz um projeto musical chamado Nina and The Infinite Universe.
Princípio hermético
– Estamos aqui –
Disseram as formigas
tão pequenininhas
sobre a mesma terra
na qual caminhamos
– Estamos aqui –
Disseram as estrelas
sem-nome e distantes
no mesmo infinito
no qual existimos
Formigas e estrelas
fazendo poesia
Aqui e acolá:
o mesmo lugar
que é este universo
- Haicaista, Pessoa Autista, Pessoa Neurodivergente, poeta contemporâneo, poeta vivo, São Paulo
Publicitário, jornalista, professor e escritor. Mora em São Paulo/SP. É autor de dezenas de obras, incluindo “Haicais vazios” (2025, TAUP). Vencedor do Prêmio ABERST, Troféu HQ MIX, Prêmio Ecos da Literatura e alguns outros, já participou de mais de 350 coletâneas de contos, poesias e quadrinhos.
Amor e paixão
Paixão é pá, torrente, tempestade.
Amor é semente, chuva, sol da tarde.
Paixão é a coragem com intensidade,
Amor também é coragem, mas a mais temível ao covarde.
Paixão é muitas vezes a metade.
Amor é continuamente por inteiro, sem alarde.
Paixão sem amor, queima e se extingue.
Amor sem paixão ainda se distingue,
mas em fogo baixo, com suavidade.