Poetas – Mulheres Lésbicas

A categoria Mulheres Lésbicas destaca as vozes das poetas brasileiras. Descubra suas obras, histórias e celebre a a diversidade e a força da voz feminina na literatura. contemporânea.
- Mulher Lésbica, Pessoa Neurodivergente, poeta contemporâneo, poeta vivo, São Paulo
Escritora paulista, autora dos livros “TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada” (Litteralux, 2017) e “Nequice: Lapso na Função Supressora” (Litteralux, 2018) , livro finalista na categoria contos do Jabuti 2019.
Querem o casto, o alvo
o que se move em letargia na nata sul
com a mansuetude fastidiosa das moças superiores,
das madres queixosas por dedos e taramelas minhas.
Encontramos, nas paredes sujas, alguns ossos pequenos e fagulhas de suposta fuga de rubra utopia.
E querem.
Querem passos miúdos, vozes menos roucas, colunas dóricas alinhadas com o reto de seus generais, com os discursos aleatórios dos troncos vazios em altares de Eridu.
Descobrimos, sob seus telhados ocreosos, anotações de sonhos vencidos, fungos auris, abusos puídos de peças ornamentadas para o grande fim.
E eles ainda querem.
Querem a carne forte até o nascer do sol, a mentira edificante da poesia alada de falsos poetas, o caldo dos músculos que não formam nações.
–
Despertei tarde.
Ninguém mais esperava por mim.
Em ninho de susto, descabido medo de se misturar aos meus restos e barros de gente… Ninguém mais apareceu.
Despertei do que trava a língua das palavras boas.
Mas era tarde pra mar.
E eles querem.
Puros…
o meu silêncio.
- Mulher Lésbica, Paraná, Pessoa Assexual, Pessoa de Origem Latino-Americana, Pessoa LGBTQIA+, Pessoa Não-Binária, poeta contemporâneo, poeta vivo
Jéssica Iancoski é editora, poeta, designer gráfica e articuladora cultural. Autora de mais de 10 livros, foi finalista do Prêmio Jabuti (2022) e Prêmio Mix Literário (2022). Idealizadora do Toma Aí Um Poema, já publicou 2 mil autores e produziu mais de 1.500 poemas para plataformas digitais. Organiza o 1º Prêmio Literário da Cidade de Curitiba, com apoio da Fundação Cultural de Curitiba.
Ela
- Haicaista, Mulher, Mulher Lésbica, Pessoa LGBTQIA+, poeta contemporâneo, poeta vivo, São Paulo
Gestora Cultural e graduada em Rádio e TV. Atuou como Facilitadora de Histórias na Bienal do Livro de SP e foi indicada ao prêmio Expocom 2012. Colaborou com coletivos poéticos, teatro e produções audiovisuais. Estreou na literatura impressa em 2013 e foi finalista do Festival de Poesia de SP em 2015.
Torta
Dobrei sem simetria outro papel
Mesmo seguindo a linha pautada
cortei mais acima da linha pontilhada
Outra vez
Acontece o mesmo com cobertores
Junto as pontas
me concentro e rezo
mas sempre pende uma ponta
Sempre não tão bom assim
Lençóis de elástico então!
simbolizam toda minha trajetória errante
Da batata muita casca
e outros crimes com tesouras sem ponta
Talvez eu continue escrevendo inclinado
em linhas desbotadas
A curva do rio nunca quis ser reta
Transborda o cinza que
teima em emergir retilíneo
onde a nossa natureza
só quer existir
torta
- Mulher, Mulher Lésbica, Paraná, Pessoa de Origem Latino-Americana, Pessoa LGBTQIA+, poeta contemporâneo, poeta vivo
Taíssa de Nadai é formada em direito e graduanda em letras pela UFPR. Apaixonada pela busca de caminhos interiores e oníricos às realidades hostis, sempre se mostrou bastante afeita à utilização da arte como ferramenta de mudança social. Em 2023, publicou seu primeiro livro de literatura, Restos do devaneio, pela Editora Patuá.
Uma vontade
incessante
de sentir fome
de ser tão estrangeira
a ponto de nunca estar no devido lugar e isso ser justamente o melhor horizonte porque dessa forma me equilibro com a minha arte
a minha parte
e o que pode haver de
diferente
não me contento em fazer o mesmo alcançar os objetivos já traçados brincar de brincadeiras já conhecidas amarelinha
queimada
telefone sem fio
hoje em dia todos os telefones são sem fio
de que adianta?
Busco o não pertencimento
o único que poderá
quiçá
me lavar
me levar
à fala mais intrínseca
e universal.
- Haicaista, Mulher Lésbica, Pernambuco, Pessoa de Origem Latino-Americana, Pessoa Imigrante ou Refugiada, Pessoa Negra/Preta, poeta contemporâneo, poeta vivo
Vanessa Valentim é docente, licenciada em Letras, especialista em fonética e fonologia, mestranda em Literatura em Língua Estrangeira e Literatura Comparada. Educadora, pesquisadora e inquieta. Amante dos seres vivos. De pequena queria ser professora, brincava de dar aulas, ensinava suas pequenas sabedorias.
Quando o telefone vibra
Um chá preto
descansa na xícara com desenho de um elefante.
O telefone vibra insistentemente.
Tocar jamais,
essas musiquinhas
não combinam com a rotina já estridente.
Notícia que chega vibrando
segue vibrando e ecoando
do estômago até o pescoço.
Harmoniza com aquele retrogosto
amargo da infusão esquecida.
O sofrimento flutua,
não sabe nadar.
A única boia;
respirar.