Poetas Autistas

Poetas Autistas

Poetas Autistas

A categoria Poetas Autistas destaca poetas brasileiros autistas que trazem suas experiências e perspectivas únicas para a poesia. Descubra suas obras e como suas vozes contribuem para a diversidade e a riqueza da literatura contemporânea.

Ari Arcilio Carneiro Sales de Albuquerque Júnior, Arcilio Sales, 42 anos, iniciou suas aventuras na poesia aos 10 anos e não parou mais de escrever. Define-se como a paixão que não cessa por tudo o que vive.

Poesia

Alma de Poeta

No desdobrar do destino,
Joga suas folhas pelo caminho
E o vento embeleza seus passos
Em meio a histórias e devaneios.

Hoje fora andarilho,
Queda d’água a molhar-se
Na imensidão de pensamentos,
Coração ávido de desejos.

Ontem se fez conciso,
Calculando o elixir
Das poções que distribuíra
Aos amantes em busca de sonhos.

Amanhã metamorfose-á
Em bicho pequenino
Buscador dos menores espaços,
Fuçador de tudo que é diminuto.

Prepara sua tinta,
E no desdobrar dos caminhos,
Suas folhas se lançam,
Junto à alma do poeta.

Luciana Quintão de Moraes (1993) é poeta, revisora e tradutora literária, graduada em Letras (UNIRIO). Integra os coletivos “Fazia Poesia” e “Escreviventes”, pesquisa o figurativo do inominável e o hibridismo nas artes. Presente em diversos projetos poéticos. Tentei chegar aqui com estas mãos foi seu primeiro livro. Flor de sangue é o segundo.

Poesia

Under the gun

1. Projétil – laço mortal
A bela palavra é animal.
Esta, que entranhada no
excesso de doce /olhar canino/
em diálogo com /um inferno musical
Diânico/ em sua árvore em reverberação, vibra.

2. Projétil – cinquenta e nove porcento
__A ilógica relação fundamental com todas as coisas.
__Um lugar cintilante.
__ De onde vem a palavra?

3. Projétil – figura da ausência
Uma frase raspada por vó
para um licor de pequi.
Tal história replicada em si,
por vir da morte de mãe.
Somos o que ficou salvo no arquivo:

4. Projétil – oculto
Vivemos por amor. E já sou um labirinto. Para respirar.
Também tenho esta doença.
No líquido amniótico de nossa origem____
Tome a minha concha, no mirante e no
tumulto, e não aceite um prazo.

5. Projétil – amor do gesto
Somos o tempo do Agora, onde tudo Finda,
No meio do labirinto que recebo em sua
Concha, e vivo por Amor, no lar da Perda Pétrea,
pela beleza Rara, nesse Labirinto;

Maria José de Melo é natural de São Caitano, município do Agreste de Pernambuco e atualmente reside em Jaboatão dos Guararapes (PE). É escritora, geógrafa, colunista e poetisa. Autora do livro: A Renda Fundiária na transposição do Rio São Francisco (Índica/2021) e A Jitirana Poética (Toma Aí Um Poema/2023).

Poesia

RECIFE DO MANGUE BEAT

Recife é a Veneza Brasileira
Com suas belas pontes
Expendida na beleza
Do encontro do rio com o mar
Recife, berço cultural na tradição nordestina
Nas veredas da poesia popular
Ela é braba e regional

Recife, na inconformidade de uma cidade lama
Na insularidade social, fez-se ilha e desigualdade
Recife se fez ponte sobre o mangue
Enaltecido no ritmo, no som e na melodia
Do Mangue Beat

O caranguejo com cérebro
Anunciou miséria e caos
Fruto de um movimento vivo
O manifesto que misturou o tradicional com o moderno
Assim, Recife deixou de ser marasmo cultural

Recife, poesia viva
No circuito regional e universal de
Naná Vasconcelos, Luiz Gonzaga, Ariano Suassuna,
Clarice Lispector, Celina de Holanda,
Joaquim Cardoso e cia
Assim, nossa identidade nos faz regionalista.

Escritora, Poetisa, Colagista Manual, Mãe atípica, Autista, Servidora Pública do Estado de Rondônia, Formada em Matemática e Letras Inglês e suas respectivas Literaturas, Mediadora de Biblioterapia, Mestra em Engenharia de Energia, Criadora da página @partilharpoesia, Michele Magalhães é uma mulher múltipla.

Poesia

rio em mim

entro na água
o rio mergulha
em mim
unidos
somos
um

sigo sem rumo
pelas linhas
paralelas
destes caminhos
tortuosos,
onde me
reencontro
com quem
sempre fui

corpo repleto de
alma-coragem
em busca da cura
eu-me encontrei

me deixo levar pela correnteza
meu corpo ser levado pelas águas
minha alma ser lavada pelas águas
me sinto mais leve

Nina Carneiro é poeta, compositora e artista autista. É autora dos livros “Devaneio Coerente” (Filos, 2021) e “No limiar do espectro” (Filos, 2024), e também conduz um projeto musical chamado Nina and The Infinite Universe.

Poesia

Princípio hermético

– Estamos aqui –
Disseram as formigas
tão pequenininhas
sobre a mesma terra
na qual caminhamos

– Estamos aqui –
Disseram as estrelas
sem-nome e distantes
no mesmo infinito
no qual existimos

Formigas e estrelas
fazendo poesia
Aqui e acolá:
o mesmo lugar
que é este universo

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