Sofia Lopes é escritora, tradutora e doutoranda em Literatura. Suas publicações incluem dois livros e participações em antologias e revistas. Seus trabalhos podem ser encontrados no Instagram @literartemis.
Ariadne
é rubro o fio que me ata ao reflexo
fio diáfano inviolável
que reescreve o tempo
e o deita perante meus pés
entalhes, trilhas que sigo
contigo, instinto e ardor
para traçar passos outros
labirínticos,
tortuosos, nossos.
é rubro o sangue que me escorre as paredes
sangue de corpo-bicho-mulher
que verte, alma às mãos
e se desfaz, água carmim
na pele em flor de seus braços,
cálices que transbordo
e preencho, lar que habito,
que me habita
em igual medida.
arqueologia
atravessa o invisível—
mergulha em seu lago,
cruza águas incógnitas—
do frescor da alga ao
lodo mais denso—
traça trilhas com as
pontas dos dedos, resvala
as unhas sobre leitos
de diminutas contas, escava
antigos tomos—tábuas
de pedra, colheita
das profundezas—lava o
pó que se esfarela, lança-o
pela terra—semente,
areia, dispersas sobre
solo tão fértil, tão
faminto—e descobre,
com olhos de eterno
enlevo, o que ali
pode florescer.