A poesia de Sandra Pinto

Sandra Pinto

Sandra Pinto é carioca, arteterapeuta e poeta. Para a autora, poetizar é um ato de amor revolucionário, traz o avesso para o direito, e coloca o direito num novo lugar. Instagram – @sandrapinto.art

Poesia

Hécate

mumificada
numa fina camada de lã pardacenta
corpo inerte, mente em ebulição
viva entre meus mortos
realizei Hécate

deusa tripla
de Anatólia para o mundo
alquimista sulfúrica
a acompanhar a desintegração de corpos
e a lenta despedida das almas

resta pouco ar no casulo
resignada, aguardo.
a morte é certa,
sigo esperançando
um novo começo

o corpo, antes ávido pela vida,
agora pede pausa,
do ir e vir das partículas.
invernar, disse-me ela
germinar, sussurrou-me

nos braços de Hécate voei
pelos braços de Hécate retornarei

Fast fashion

fast fashion
moda do terceiro milênio descartável a cada estação
produzida por gente que não pode seguir “a moda”
e sonha com a próxima barca para a Europa


fast fashion
toneladas de roupas em containers giram pelo mundo
moda velha fingida de nova vira lixo no Sul Global
no Sul que sustenta o Norte

fast fashion
“roupa de homem branco morto” assim é conhecida na África
onde o mar vomita as vestes nas praias de Gana
montanhas de camisetas e jaquetas colorindo a paisagem distópica


fast fashion
com os retalhos do primeiro mundo Mama África reinventa a moda
ergue seus punhos e borda uma nova história
“basta de neocolonialismo têxtil”

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