Poetas Mulheres

Poetas Mulheres

Mulher - bandeira

A categoria Poetas Mulheres destaca as vozes das poetas brasileiras. Descubra suas obras, histórias e celebre a força da poesia feminina.

Adriene Cruz

Adriene Cruz é natural de Varginha-MG, Especialista em Produção Textual, Licenciada em Letras – Português, atua como Professora na Educação Básica. Autora do livro Paisagens Interiores – Editora TAUP. Acredita no poder da escrita como uma das formas de cura das emoções.

Poesia

Mulher de Março

Eu não tenho culpa
Ninguém tem culpa
Sou como sou

Pertenço à família dos Sentimentos
Meu sobrenome é Intensidade.

Me ame ou me deixe
A escolha é sua
Mas não me peça
Para dissimular o que sinto.

Meu corpo conduz as águas
Que dos meus olhos escorrem lentas, fluidas.
Que no meu interior,
Quando querem amar
Revolvem-se como as ondas do mar…
Frescor
Repouso
Regalo

O que toca minha pele
Também vibra em minha alma

Assim,
Sou como sou

Pertenço à família dos Sentimentos
Meu sobrenome é Intensidade.

Amélia Greier recebeu a medalha Adélia Prado da AFEMIL em 2019. Em 2021, participou da publicação do livro “(Con)ciência. Historias de la ciencia brasileña”, promovido pela Universidade de Salamanca em parceria com a FIOCRUZ. Em 2024, venceu o 2º Concurso de Contos PodLetras com o conto “Pano de Fundo”.

Poesia

Conjugação

Amor nascido às avessas
Tu nasceste primeiro, e eu vim após
Paixão reta, de morfologia travessa
Ele foi pioneiro, e eu nasci sendo nós

Desde o início, indicativos
Olhares, mãos dadas, sorrisos e beijos
Juntos regíamos todos os substantivos
E fizemos histórias conjugando desejos

Então, o sentimento ficou abundante
Paixão invariável, desatino imperativo
Mais-que-perfeito, foras meu modo mais excitante
Na tua presença, tudo era intransitivo

Passados tantos tempos, perdemos os adjetivos
De todos os predicados, só sobrou nossa ligação
Querido, não deixemos nosso amor no subjuntivo
Transformemos todas as sentenças em linda oração

Pois, de primeira, amar foi a mais linda surpresa
Depois, viver contigo foi pura emoção
Se o sentimento é tão lindo quanto a língua portuguesa
Ao invés de partir, façamos do amor a derradeira conjugação

Ana Gabardo

Ana Gabardo é psicanalista e pedagoga, mora em Curitiba/PR e escreve desde que se lembra de ser gente. Desde cedo, reconhece o imenso compromisso e afeto com as palavras, que para ela são um modo de sobrevivência e de embelezamento da vida. Ela alimenta cotidianamente seu blog (https://www.sonhosemergentes.com/) com escritos sobre a vida e a morte, sobre os mergulhos e as dores e, às vezes, com um pouco de humor.

Poesia

9 terça-feira

vamos desenrolar essas e outras histórias?

                                                                (tensão
                                        estômago cimentado
                                                        desde então
                                                            não como
                               e eu que achei que já vivia
                                                               a minha
                                                   melhor história
                                             ou melhor dizendo
                       a minha única história possível
                      como pode uma única pergunta
                                                abrir uma fenda?
                                                  encarei a fenda
                                                               para ver
                                            o que tinha dentro
                                                     era interesse)

Andréa Zemp Nascimento é mãe dois filhos. Graduada e Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela USP e Mestre em Mediação Cultural e Artística pela Universidade de Artes de Zurique (ZHdK), é autora de “A criança e o arquiteto: quem aprende com quem?” (Annablume; FAPESP, 2015) e do livro de poemas “tecedeira, com verso…” (Helvetia Éditions – Selo do Festival de Poesia de Lisboa, 2024). Tem poemas em diferentes antologias, entre elas “O amor é um grito” (TAUP, 2024).

Poesia

pélago

ilhada em ferida
não mais em carne viva

deito os cílios
às margens da casca

e vejo:
a pele é vasta

Bia Viana

Bia Viana é escritora, jornalista e comunicadora. Autora da obra “A mulher jornalista no cinema” (2020) e coautora da antologia “Publicar é um Direito” (2023), escreve sobre comunicação, gênero e cultura. Foi delegada em evento na ONU pelos direitos das mulheres e atua internacionalmente em projetos sociais. Está nas redes como @btrzviana.

Poesia

Pronome próprio, incomum

Um dia, terei minha própria casa
Minhas próprias coisas
Meu próprio jazz, tocando em meu próprio rádio
De meu próprio gosto
Acompanhado do próprio vinho, barato
Aquele que eu mais gosto
Que a gente sempre compra em três garrafas quando vai ao mercado
Com meus próprios pés, descalços
E minhas próprias mãos, segurando duas taças
Uma de cada lado
Um tinto e um rosé, para aproveitar os dois gostos
Também podem ser duas cervejas
Tudo depende do próprio momento, claro
E vou dançar no meu próprio tapete aveludado
Debaixo de meu próprio teto
Com o volume inapropriadamente alto
Para a hora de ser eu própria
Que será, espero, toda hora
Ah, como eu quero ser própria.

Carolina Ana

A escrita de Carolina Ana é uma constante busca por pertencimento, expressando incômodos e reflexões. Inspirada em questões filosóficas, espirituais, ancestrais e LGBTQIA+, ela mergulha em temas como vida, morte, amor e desejo. Com formação em comunicação e especialização em escrita criativa, sua voz singular ecoa através das palavras. @carolina.ana.oz

Poesia

Iansã & Ossaim

Ocupo espaço, mas não sei onde estou
Moro em dois lugares, mas não moro em lugar nenhum
Corro, percorro, viajo com o vento
Não sei onde quero estar
Talvez a vontade de estar em todos os lugares
Me atrapalhe em permanecer

Tenho a sede do encontro
Tenho a sede da troca, mas nem todos entendem
Na verdade, quase ninguém entende
Será que alguém já entendeu?
Ofereço a troca, mas logo vou me embora
Sem ofensas, não tente me prender

Vento não se prende
O dono desse vento mora nas florestas
Ele também prefere estar sozinho
É por isso que ele é o dono
Ele nunca tentou me prender
E eu sempre ventei ao seu lado
Mesmo sem seu pedido
Mesmo sem seu consentimento
Sempre o protegi de si mesmo
Afinal, o vento é transparente

Cátia Castilho Simon é mestre em literatura brasileira e doutora em estudos de literaturas brasileira, portuguesa e luso-africanas/UFRGS. Participou de diversas antologias, escreve mensalmente para os sites RED (Rede Estação Democracia) e Rede Sina. Tem cinco livros individuais. Integra o Mulherio das Letras/RS; vice-presidenta cultural da AGES 2023/2024.

Poesia

a grande máquina

a grande máquina vocifera
pertoequente pertoequente pertoequente

mãos manchadas
lenços ao vento

a grande máquina vocifera
retumbante
pertoequente pertoequente pertoequente

primeiro, as crianças!
trombeteia
pertoequente pertoequente pertoequente

saltam papéis
faltam sapatos

pertoequente pertoequente pertoequente
em estridentes gargalhadas
segue em frente

Cecília Zugaib, nascida na Bahia e residente em Zurique, compartilha suas obras desde 2021, explorando gêneros literários variados. Coautora de várias antologias, foi finalista no 9º Festival de Poesia de Lisboa (2024) com o poema “Matizes do Extermínio”. Participou do Festival “Zurich Liest” com suas contribuições para a artzine Zwischentext. Atualmente lança dois livros solos de poesia.

Poesia

Processo

Dizem que, para curar,
há de se chorar,
ir até o fundo, tomar impulso,
se reinventar,
voltar à tona,
receber o tempo como um abraço,
aceitar o passado,
traçar planos,
não pensar,
cultivar hábitos saudáveis,
exercitar-se, dormir muito,
estar com amigos,
meditar.

Curar é processo.
A dor pulsante
corta a alma,
marea os olhos,
seca a boca.

Curar é tempo em câmara lenta,
é silêncio incômodo
que não acha posição confortável,
é exaustão que te adormece,
o caminho necessário.

Cidinha da Silva é escritora e doutora em Difusão do Conhecimento. Autora de 22 livros, entre eles os premiados “Um Exu em Nova York” e “O mar de Manu”. Tem traduções em catalão, espanhol, francês, inglês e italiano. É cronista do jornal Rascunho. Seu livro mais recente é “Vamos falar de relações raciais? Crônicas para debater o antirracismo” (Autêntica, 2024).

Poesia

Chuva

Ontem chovi
Era chumbo
A nuvem que me matava
Chovi mágoa
Contrita
Ebó despachado na praça
Na encruza do tempo perdido
Chovi no pântano dos afogados
Mangue de dor
Sem flor que nasça
Chovi o amor guardado
Tudo é morte
Tudo é renovação
Só por chover
Amor
Vivo

Cíntia Colares (Flor de Lótus) é mulher preta cis, jornalista, poeta, coautora em coletâneas de poesia, mãe solo de um adolescente negro, mora na periferia de Porto Alegre/RS.

Poesia

Reconstruindo

Escrevo
para tentar mudar
o que recebo dessa vida.

Escrevo
porque não aceito
essa vida que insistem
em jogar em cima de mim.

Tão pesada
que estou sempre
prestes a ser soterrada.

Às vezes essa vida
me faz sumir.

Depois arremesso
esses escombros
para longe

E vou me reconstruindo
pelo caminho.

Não dá tempo de esperar cicatrizar.

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