Poetas do Paraná
A categoria Poetas do Paraná reúne escritores e escritoras que representam a poesia e a cultura do Paraná. Aqui, destacamos poetas paranaenses que traduzem em versos a riqueza cultural, as histórias e as tradições do Paraná. Descubra escritores contemporâneos que nasceram ou se radicaram no Paraná, celebrando a essência literária desse Estado tão vibrante.
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Ana Gabardo é psicanalista e pedagoga, mora em Curitiba/PR e escreve desde que se lembra de ser gente. Desde cedo, reconhece o imenso compromisso e afeto com as palavras, que para ela são um modo de sobrevivência e de embelezamento da vida. Ela alimenta cotidianamente seu blog (https://www.sonhosemergentes.com/) com escritos sobre a vida e a morte, sobre os mergulhos e as dores e, às vezes, com um pouco de humor.
9 terça-feira
vamos desenrolar essas e outras histórias?
(tensão
estômago cimentado
desde então
não como
e eu que achei que já vivia
a minha
melhor história
ou melhor dizendo
a minha única história possível
como pode uma única pergunta
abrir uma fenda?
encarei a fenda
para ver
o que tinha dentro
era interesse)
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Andrey Cechelero é Músico, multi-instrumentista, filmamker e escritor de Curitiba, Paraná. Como artista da gravadora AZUL MUSIC já lançou 24 álbuns desde 1998. Como escritor já editou 4 livros. Andrey tem um trabalho intenso nas redes sociais com poemas que falam à alma.
sobre nós
sobre nós
a adaga fria do sofrimento
o mundo das aflições
pesado nos ombros
a todo momento
sobre nós
cem mil newtons de atmosfera,
pressão em todo centímetro quadrado,
cercados de água por todos os lados
curvamo-nos à força
vicissitudes dobram as gentes
e amar demais … igualmente
sofrer também é passar
sofrer é também deixar passado
vencer o atrito e chegar no espaço
do outro lado
do outro lado do espaço
sobre nós
sempre foi
sobre nós.
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Cris Otto Sá, poeta e autora dos livros “Das Pedras do Caminho…” e “O Sentir do Passo”, explora temas como a natureza, a jornada da vida e as relações humanas na sua escrita, além de transformar pedras em arte e poesia.
Escreve-me Poema
Toma-me, poema;
Escreve-me,
desvencilha-me do pensar.
Arrebenta amarras e rouba-me o corpo,
a alma, os sentimentos;
queima qualquer resistência,
arrebata-me o coração.
Arranca lágrimas, sorrisos;
tira-me de mim.
Que nada seja meu;
tudo, teu.
Escreve-me, poema,
como quem escreve
o início e o fim e, no meio,
me consome com sede,
fome, desejo.
E já na exaustão,
entre dores e prazeres,
me dê à luz e me devolva
desprovida de tudo
e repleta de amor.
Escreve-me…
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Denise Lisboa, nasceu em 1985. É mãe, psicóloga e gateira. Paranaense, não por escolha. Escreve umas coisas quando as palavras chegam, em geral em meio ao caos.
Segue sobrevivendo exausta ao capitalismo tardio e à crise estética que nos assola.
saudade
quando você vai embora
logo coloco a casa em ordem
(quero que ele aprenda
a ser um adulto funcional
estar em casa
sem instaurar o caos)
tenho tempo para afazeres
prazeres
mas meu coração, bagunça
prefiro o caos da correria
ao silêncio da sua ausência
baby shark em looping
às minhas playlists infinitas
minha vida é movimentada
ser mãe não resume o dia
mas apenas sua presença
é o que me faz calmaria
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Fialco de Oliveira escreve há cerca de quinze anos e recentemente descobriu a aspiração de vir a público com seus pensamentos mais internos, pelo menos aqueles que ganharam a forma de poesia. Formado em Letras pela UEL, considera a palavra escrita a expressão da subjetividade por excelência.
Continuar
Ontem ameaçou
e hoje choveu
e não vai parar;
Não me interrompeu,
tenho que continuar.
Vou a pé, vejo as casas
vejo os carros e os quintais,
Uns pássaros voando
outros, engaiolados e não cantam mais.
Alguns homens vão andando,
outros, engarrafados
no escritório, empregados
pesquisando como ser.
Castiga, o mormaço,
mas, tenho que continuar
pelo carpê de piche
na violência do peito
nos encargos do anseio
e a indigência no ar.
A prover abrigo
sem beijo a recolher.
Apesar do suspiro
posso só continuar.
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Gisela Maria Bester é escritora das letras jurídicas e literárias (poeta livre, haicaísta, cronista e contista). Possui Mestrado em feminismos, sufragismo e ações afirmativas, Doutorado em ditaduras brancas e Pós-Doutorado em sustentabilidades. Seu livro de poemas Pinte-me de Azul! (Mondru), é finalista no Prêmio Literário da Cidade de Curitiba 2024. @giselabesterescritora
ANTRÓPICO
aterrisse seu avião em uma pista cheia de mar
sufoque-se com as fumaças das queimadas
– sobrepostas sonoridades já não mais possíveis –
cegue-se com as tempestades de fuligens
tome veneno no copo d´água, outrora de vida cristalina
coma hormônios no frango de padaria
ingira antibióticos e líquidos vacinais
nas maminhas da macia carne bovina
celebre o fim das outras espécies, asas não
ria do veado dependurado, sangrando no seu gozo estéril, azar
faça pouco da onça, na beira da civilização
não se esqueça da transgenia, comendo a sua fome feia, recrute sempre sua imensa ganância
sinta calor extremo, águas espessas
compre mais aparelhos de ar-condicionado
e espere os apagões, na sua plúmbea visão
coce seu cancro de pele de ozônio de sol aberto
desafie a rotação e a bondade do planeta
extraia mais riquezas daquilo que não é seu
mate indígenas por amianto, lítio, cassiterita, ouro,
madeira e terra, espalhando ácido pranto
conte mais dinheiros e vantagens,
derrube mais árvores, mate mais e mais, nascentes, sementes,
bichos, sonhos, afetos, e não se esqueça, imutável ser,
de fazer de conta que o inferno não parte de si
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Guilherme Eisfeld busca nas palavras uma forma de se encontrar com o meio. Curitibano não-praticante, editor, publicou seu primeiro livro de contos “Pedaço de Pano para Secar Enxurrada” em 2023 e segue em transformações.
Haja paciência
Se de apenas uma casa pudesse dispor
faria suas boas-vindas de cacos vermelhos
alegorias de janelas quebradas
alegrias de pequenos bufões.
Livros mesclariam velhos retratos
roxos dedos gritariam nos martelos
um par de óculos sussurraria benzimentos.
Tacos soltos pulariam tropeços
tapetes agarrariam pés descalços
ensinando passos de dança
na superfície lunar.
Periquitos australianos e canários belgas
recitariam ao lado de pés de couve, chicória e limão
até tatus desenrolarem a imigração.
Filmes repetidos em cartaz
transformariam continuamente as tardes
em sessões de bolo formigueiro.
Ao crepúsculo
seus portões se abririam
o vento acenaria
o retorno perene.
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Jéssica Iancoski é editora, poeta, designer gráfica e articuladora cultural. Autora de mais de 10 livros, foi finalista do Prêmio Jabuti (2022) e Prêmio Mix Literário (2022). Idealizadora do Toma Aí Um Poema, já publicou 2 mil autores e produziu mais de 1.500 poemas para plataformas digitais. Organiza o 1º Prêmio Literário da Cidade de Curitiba, com apoio da Fundação Cultural de Curitiba.
Ela
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Mabelly Venson é uma matemática que se apaixonou pela escrita. É parteira de livros na Editora Toma Aí Um Poema e autora de “Tudo Que Queima”, “apenas mãe” e “GELO”, obras que focam nas complexidades do ser mulher.
Confissão a Netuno
Lembra
as ondas quebrando na costa do atlântico sul
os menininhos construindo palácios sob o voo das aves marítimas
nossos lábios ardendo de suor e sal
Foi quando você me disse :não se aproxime
engoli o afogamento sinuoso dos sonhos
o farfalhar da melancolia
a confissão do desespero
foi por isso que fiquei com os olhos presos no canto da sereia (e emudeci)
Era agosto era você
e a rede
Eu vi você cruzando a borda do mar
eu vi você na embarcação de vinte e três pés
eu vi a teia de luz invadindo seu corpo impenetrável
eu vi o espaço tênue entre o sonho e a batalha
você
metade devoção metade agilidade
metade medo metade cobiça
metade homem
metade rei
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Manoel Lima é poeta e músico de Curitiba-PR.
Escreve desde o Ensino médio.
As inspirações vem das vivências da periferia, leituras e as ideias que surgem do ócio.
Sol Carmesim
E por essas terras sul-americanas,
Que buscava-se o “vermelho como brasa”,
A tintura do pau-brasil.
Para alguns: riqueza,
Outros: sangue.
De quem podia escolher.
O passado arde como lembrança vívida.
Nossa terra de carnavais e dores,
Mais uma vez embrasa,
Sob as asas desse solo, que és mãe gentil.
Quantos tecidos foram tingidos?
E quantos foram os atingidos?
Até o céu está mudado.
Entre fumaças e cinzas.
Na aurora um novo Sol.
Sol Carmesim.
Será um presságio?
Mais uma vez descobertos,
Dessa vez, por nós mesmos.
Aceita uma última dança?