Poetas de São Paulo

Poetas de São Paulo

Poetas de São Paulo

A categoria Poetas de São Paulo reúne escritores e escritoras que representam a poesia e a cultura de São Paulo. Aqui, destacamos poetas paulistas que traduzem em versos a riqueza cultural, as histórias e as tradições de São Paulo. Descubra escritores contemporâneos que nasceram ou se radicaram em São Paulo celebrando a essência literária desse Estado tão vibrante.

Natural de São Paulo; autor de 04 livros; Título Comenda Literária “Pablo Neruda”; reconhecido por diversas Premiações em meios Literários, Profissionais e Culturais; Participações em vários Concursos Nacionais e em 30 Coletâneas Antológicas e Projetos Literários no Brasil e no exterior. Instagram @acarlosmisawa

Poesia

A Canção do Pôr do Sol

O sol se deitava sobre os ipês floridos,
e o vento dançava entre notas perdidas.
Ele dedilhava canções ao entardecer,
ela, encantada, só queria pertencer.
O amor nascia no som e no olhar,
como quem encontra no outro seu lar.

Os dias eram música, brisa e chama,
abraços que o tempo jamais desama.
No brilho dos olhos, segredos guardados,
no toque das mãos, desejos calados.
Cada acorde era um verso a pulsar,
um poema que a vida insistia em cantar.

Vieram promessas, vieram partidas,
o tempo impiedoso cruzando suas vidas.
Cartas dobradas, perfumes guardados,
fotografias de risos apaixonados.
Mas o sol sempre voltava ao poente,
e a música os trazia de volta à mente.

Um dia, perdida entre velhas memórias,
ela encontrou vestígios da sua história.
Os dedos tremiam, o coração disparava,
seria um acaso ou o destino chamava?
Na linha distante, um simples “alô”,
e o mundo parou, sem dizer se acabou.

A vida seguiu como quem nunca esquece,
como quem ama e o tempo obedece.
O amor não pede, não se desfaz,
permanece no eco de um pôr do sol fugaz.
No acorde de um violão que toca sozinho,
ou no silêncio, onde o amor faz seu ninho.

Amélia Greier

Amélia Greier recebeu a medalha Adélia Prado da AFEMIL em 2019. Em 2021, participou da publicação do livro “(Con)ciência. Historias de la ciencia brasileña”, promovido pela Universidade de Salamanca em parceria com a FIOCRUZ. Em 2024, venceu o 2º Concurso de Contos PodLetras com o conto “Pano de Fundo”.

Poesia

Conjugação

Amor nascido às avessas
Tu nasceste primeiro, e eu vim após
Paixão reta, de morfologia travessa
Ele foi pioneiro, e eu nasci sendo nós

Desde o início, indicativos
Olhares, mãos dadas, sorrisos e beijos
Juntos regíamos todos os substantivos
E fizemos histórias conjugando desejos

Então, o sentimento ficou abundante
Paixão invariável, desatino imperativo
Mais-que-perfeito, foras meu modo mais excitante
Na tua presença, tudo era intransitivo

Passados tantos tempos, perdemos os adjetivos
De todos os predicados, só sobrou nossa ligação
Querido, não deixemos nosso amor no subjuntivo
Transformemos todas as sentenças em linda oração

Pois, de primeira, amar foi a mais linda surpresa
Depois, viver contigo foi pura emoção
Se o sentimento é tão lindo quanto a língua portuguesa
Ao invés de partir, façamos do amor a derradeira conjugação

Bia Viana

Bia Viana é escritora, jornalista e comunicadora. Autora da obra “A mulher jornalista no cinema” (2020) e coautora da antologia “Publicar é um Direito” (2023), escreve sobre comunicação, gênero e cultura. Foi delegada em evento na ONU pelos direitos das mulheres e atua internacionalmente em projetos sociais. Está nas redes como @btrzviana.

Poesia

Pronome próprio, incomum

Um dia, terei minha própria casa
Minhas próprias coisas
Meu próprio jazz, tocando em meu próprio rádio
De meu próprio gosto
Acompanhado do próprio vinho, barato
Aquele que eu mais gosto
Que a gente sempre compra em três garrafas quando vai ao mercado
Com meus próprios pés, descalços
E minhas próprias mãos, segurando duas taças
Uma de cada lado
Um tinto e um rosé, para aproveitar os dois gostos
Também podem ser duas cervejas
Tudo depende do próprio momento, claro
E vou dançar no meu próprio tapete aveludado
Debaixo de meu próprio teto
Com o volume inapropriadamente alto
Para a hora de ser eu própria
Que será, espero, toda hora
Ah, como eu quero ser própria.

Formada em direito em São Paulo e linguística em Berlim. Escreve prosa e poesia. Possui textos em antologias e revistas literárias. Publicou dois livros de poesia: Jipe Amarelo, Folheando, 2023 e Um milímetro e meio, TAUP, 2023 e um de contos: Pard’olhos, Folheando, 2024.

Poesia

Samstag

a mulher sentada no banco do parque esperando que sua espera acabasse
ouvia liszt saindo das mãos do jovem ao piano enquanto o sorvete com chocolate e pistache quase esquecido pelos ouvidos pingava na barra da sua saia.
ela não veria a mancha e a espera acabar

a chuva batia forte no vidro do carro. para-brisas
corriam sem completar o parar

debussy repetia a palavra como se fosse íntima
tal não soubesse diferenciar um ré de um fá
tinha importância? restava o sol
chave de claude

na estrada perde-se a faixa

o pensamento foge do foco
vapor de água
embaça o vidro
sem mãos para
esfregar

meu sorvete era baunilha

Escritora paulista, autora dos livros “TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada” (Litteralux, 2017) e “Nequice: Lapso na Função Supressora” (Litteralux, 2018) , livro finalista na categoria contos do Jabuti 2019.

Poesia

Querem o casto, o alvo
o que se move em letargia na nata sul
com a mansuetude fastidiosa das moças superiores,
das madres queixosas por dedos e taramelas minhas.

Encontramos, nas paredes sujas, alguns ossos pequenos e fagulhas de suposta fuga de rubra utopia.

E querem.
Querem passos miúdos, vozes menos roucas, colunas dóricas alinhadas com o reto de seus generais, com os discursos aleatórios dos troncos vazios em altares de Eridu.

Descobrimos, sob seus telhados ocreosos, anotações de sonhos vencidos, fungos auris, abusos puídos de peças ornamentadas para o grande fim.

E eles ainda querem.
Querem a carne forte até o nascer do sol, a mentira edificante da poesia alada de falsos poetas, o caldo dos músculos que não formam nações.

Despertei tarde.

Ninguém mais esperava por mim.
Em ninho de susto, descabido medo de se misturar aos meus restos e barros de gente… Ninguém mais apareceu.

Despertei do que trava a língua das palavras boas.

Mas era tarde pra mar.

E eles querem.
Puros…
o meu silêncio.

Carlos Roque

Arquiteto. Participou do grupo de poesia Núcleo de Convivência Literária e do Grêmio de Haicai Caminho das Águas. Em 2019 participou da coletânea 8 POETAS – POESIA AO INFINITO e disponibilizou na web o livro RIO DE POUCOS JANEIROS – VINTE E CINCO POEMAS E UMA PÁGINA EM BRANCO, dedicado à Marielle Franco. Em 2022 lançou o livro de poesia ENQUANTO O MUNDO e em 2024 pela Editora TAUP, o livro de poesia QUANDO ERA.

Poesia

GEOGRAFIA

E o que vale
             montanha
             rio
             córrego
             colina e mesa farta
             planalto
             península
             baixada
             ilha
             planície e garganta falha
             talvegue
             enseada
             baía
             golfo e barra funda
             serra
             chapada
             mar
             e atlântico
nesta terra
de muitos acidentes
mesmo quando é estreito
mesmo quando temos pouco istmo
na cava profunda da depressão
é chegar ao sul
ao ponto mais distante
e saber
que não estamos longe o bastante.

PAISAGEM TRANSVERSAL

Olha para longe
e vê         o que eu não vejo
vejo apenas um gato           negro
visto por olhos                      não negros
que não me vêm
olhando para longe        e vendo
                                                 a qualquer preço
o que eu não vejo
e espero                                 negro
que o gato se vire                 em outro
e veja 
olhos bem abertos
quem não me vê
enquanto conduz
através da janela aberta        cega de tanta luz
a esperança  verde                 de um único olhar
de qualquer cor
a me atravessar                      norte a sul
até conseguir chegar             ponto de vista e fuga
aqui e ali
aonde deveria estar
mais um pouco                      dois ou três passos
                                                  lá e além
até conseguir
enfim ao fim                           das íris negras
chegar
a bombordo de mim.
Carolina Ana

A escrita de Carolina Ana é uma constante busca por pertencimento, expressando incômodos e reflexões. Inspirada em questões filosóficas, espirituais, ancestrais e LGBTQIA+, ela mergulha em temas como vida, morte, amor e desejo. Com formação em comunicação e especialização em escrita criativa, sua voz singular ecoa através das palavras. @carolina.ana.oz

Poesia

Iansã & Ossaim

Ocupo espaço, mas não sei onde estou
Moro em dois lugares, mas não moro em lugar nenhum
Corro, percorro, viajo com o vento
Não sei onde quero estar
Talvez a vontade de estar em todos os lugares
Me atrapalhe em permanecer

Tenho a sede do encontro
Tenho a sede da troca, mas nem todos entendem
Na verdade, quase ninguém entende
Será que alguém já entendeu?
Ofereço a troca, mas logo vou me embora
Sem ofensas, não tente me prender

Vento não se prende
O dono desse vento mora nas florestas
Ele também prefere estar sozinho
É por isso que ele é o dono
Ele nunca tentou me prender
E eu sempre ventei ao seu lado
Mesmo sem seu pedido
Mesmo sem seu consentimento
Sempre o protegi de si mesmo
Afinal, o vento é transparente

Sua escrita é uma constante busca por pertencimento, expressando incômodos e reflexões. Inspirada em questões filosóficas, espirituais, ancestrais e LGBTQIA+, ela mergulha em temas como vida, morte, amor e desejo. Com formação em comunicação e especialização em escrita criativa, sua voz singular ecoa através das palavras. @carolina.ana.oz

Poesia

Plutão chegou a Áquario

no dia 20 de janeiro
plutão chegou a áquario
caindo como um explosivo
sobre nosso relacionamento

pedindo renovação
arcano XVI
a queda inevitável:
é das cinzas do ego
que nasce a consciência!

a solução vem do treze
passar por qualquer coisa
e se tornar mais forte

o segredo é o ritmo
embalar o outro
escolha complementar
encontrar o meio termo
sem anular o próprio ritmo

como num barco
o remo segue a corrente
do braço

como uma dança
pés sincronizados
o gozo ainda é
a única coisa
que o capital
não conseguiu

e a solução vem da morte.

Cau Ferreira

Filho de migrantes pernambucanos, Cau Ferreira nasceu e cresceu na periferia de São Paulo. Formado em História e especialista e em Educação e Direitos Humanos, é professor da rede pública e escreve poemas. Cola lambes pela cidade e compartilha poesia e política nas redes sociais com @versopartido.

Poesia

. no metrô

afogados uns nos outros navegam o oco do centro
cansados, sonolentos
                            pe
                    da
                        ços partidos do corpo do povo


contato direto, nem um teco de metro
cotovelo na costela, bolsa atochada no baço, de frente de lado
                                                 e no verso


cabeça no braço, recostada
narina nervosa, dilatada
rotina maldita, embaçada
castiga a preguiça
                           aos sopapos


pisada no pé (mal aê, sem querer)
sobra cara feia e tapa, até
a treta infinita
                             : o hábito


e XINGAR não resolve
nem vinte centavos resolve
                          o mal estar diário

Chris Ritchie

Poeta, romancista, autora LIJ, editora, tradutora e professora Bacharel em língua e literatura inglesas, Chris Ritchie é Mestre em poesia, ambos na FFLCH-USP, licenciatura na FE-USP. Gestão Educacional na IH, Londres; CLIPE e Coop da Invenção, Casa das Rosas. Sócia da Ritchie & CO., ativista literária do Livro que Marca, poeta do Fazia Poesia, voz no duo Chris Ritchie & Tanauan.

Poesia

Andorinhas em voo

Existir, como amar, primeiro nos sucede com andorinhas em voo.
Não temos noção do que significam ou como se articulam,
mas faz sentido uma dança de milhares delas no céu.
Depois, pode ser questão de tempo, de estudo
ou de imaginação que alguma coisa se entenda
sobre existir, como amar, com andorinhas em voo.
Pode-se descobrir que o corpo só existe para ser amado,
e que o amor só existe enquanto houver coração:
existir, como amar, estão colados, com andorinhas em voo.
Mas pra tanta gente um século pode passar inteiro
e existir, como amar, se enroscar a uma sucessão de obediências
pra satisfazer alguém que acha que se nasce pra isto:
obedecer. E nada mais faz sentido.
Daí, não é raro um coração ser enterrado
com a grande ideia do amor, como a da existência, vaga,
sem nenhuma andorinha em voo.
A gente se esforça para existir, como amar, ter sentido,
mas, para se alcançar alguma noção sobre essa dança,
o único jeito é amar, como existir, com andorinhas em voo.

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