Poetas de São Paulo

Poetas de São Paulo

Poetas de São Paulo

A categoria Poetas de São Paulo reúne escritores e escritoras que representam a poesia e a cultura de São Paulo. Aqui, destacamos poetas paulistas que traduzem em versos a riqueza cultural, as histórias e as tradições de São Paulo. Descubra escritores contemporâneos que nasceram ou se radicaram em São Paulo celebrando a essência literária desse Estado tão vibrante.

Amélia Greier recebeu a medalha Adélia Prado da AFEMIL em 2019. Em 2021, participou da publicação do livro “(Con)ciência. Historias de la ciencia brasileña”, promovido pela Universidade de Salamanca em parceria com a FIOCRUZ. Em 2024, venceu o 2º Concurso de Contos PodLetras com o conto “Pano de Fundo”.

Poesia

Conjugação

Amor nascido às avessas
Tu nasceste primeiro, e eu vim após
Paixão reta, de morfologia travessa
Ele foi pioneiro, e eu nasci sendo nós

Desde o início, indicativos
Olhares, mãos dadas, sorrisos e beijos
Juntos regíamos todos os substantivos
E fizemos histórias conjugando desejos

Então, o sentimento ficou abundante
Paixão invariável, desatino imperativo
Mais-que-perfeito, foras meu modo mais excitante
Na tua presença, tudo era intransitivo

Passados tantos tempos, perdemos os adjetivos
De todos os predicados, só sobrou nossa ligação
Querido, não deixemos nosso amor no subjuntivo
Transformemos todas as sentenças em linda oração

Pois, de primeira, amar foi a mais linda surpresa
Depois, viver contigo foi pura emoção
Se o sentimento é tão lindo quanto a língua portuguesa
Ao invés de partir, façamos do amor a derradeira conjugação

Bia Viana

Bia Viana é escritora, jornalista e comunicadora. Autora da obra “A mulher jornalista no cinema” (2020) e coautora da antologia “Publicar é um Direito” (2023), escreve sobre comunicação, gênero e cultura. Foi delegada em evento na ONU pelos direitos das mulheres e atua internacionalmente em projetos sociais. Está nas redes como @btrzviana.

Poesia

Pronome próprio, incomum

Um dia, terei minha própria casa
Minhas próprias coisas
Meu próprio jazz, tocando em meu próprio rádio
De meu próprio gosto
Acompanhado do próprio vinho, barato
Aquele que eu mais gosto
Que a gente sempre compra em três garrafas quando vai ao mercado
Com meus próprios pés, descalços
E minhas próprias mãos, segurando duas taças
Uma de cada lado
Um tinto e um rosé, para aproveitar os dois gostos
Também podem ser duas cervejas
Tudo depende do próprio momento, claro
E vou dançar no meu próprio tapete aveludado
Debaixo de meu próprio teto
Com o volume inapropriadamente alto
Para a hora de ser eu própria
Que será, espero, toda hora
Ah, como eu quero ser própria.

Carlos Roque

Em 2019, Carlos Roque participa da coletânea 8 POETAS – POESIA AO INFINITO e disponibiliza na web o livro RIO DE POUCOS JANEIROS – VINTE E CINCO POEMAS E UMA PÁGINA EM BRANCO, dedicado à Marielle Franco. Em 2022 lança o livro de poesia ENQUANTO O MUNDO, publicado pela Editora Penalux. 2024, participa da coleção Machado Preto da Editora Taup, com o livro QUANDO ERA.

Poesia

GEOGRAFIA

E o que vale
             montanha
             rio
             córrego
             colina e mesa farta
             planalto
             península
             baixada
             ilha
             planície e garganta falha
             talvegue
             enseada
             baía
             golfo e barra funda
             serra
             chapada
             mar
             e atlântico
nesta terra
de muitos acidentes
mesmo quando é estreito
mesmo quando temos pouco istmo
na cava profunda da depressão
é chegar ao sul
ao ponto mais distante
e saber
que não estamos longe o bastante.

Carolina Ana

A escrita de Carolina Ana é uma constante busca por pertencimento, expressando incômodos e reflexões. Inspirada em questões filosóficas, espirituais, ancestrais e LGBTQIA+, ela mergulha em temas como vida, morte, amor e desejo. Com formação em comunicação e especialização em escrita criativa, sua voz singular ecoa através das palavras. @carolina.ana.oz

Poesia

Iansã & Ossaim

Ocupo espaço, mas não sei onde estou
Moro em dois lugares, mas não moro em lugar nenhum
Corro, percorro, viajo com o vento
Não sei onde quero estar
Talvez a vontade de estar em todos os lugares
Me atrapalhe em permanecer

Tenho a sede do encontro
Tenho a sede da troca, mas nem todos entendem
Na verdade, quase ninguém entende
Será que alguém já entendeu?
Ofereço a troca, mas logo vou me embora
Sem ofensas, não tente me prender

Vento não se prende
O dono desse vento mora nas florestas
Ele também prefere estar sozinho
É por isso que ele é o dono
Ele nunca tentou me prender
E eu sempre ventei ao seu lado
Mesmo sem seu pedido
Mesmo sem seu consentimento
Sempre o protegi de si mesmo
Afinal, o vento é transparente

Cau Ferreira

Filho de migrantes pernambucanos, Cau Ferreira nasceu e cresceu na periferia de São Paulo. Formado em História e especialista e em Educação e Direitos Humanos, é professor da rede pública e escreve poemas. Cola lambes pela cidade e compartilha poesia e política nas redes sociais com @versopartido.

Poesia

. no metrô

afogados uns nos outros navegam o oco do centro
cansados, sonolentos
                            pe
                    da
                        ços partidos do corpo do povo


contato direto, nem um teco de metro
cotovelo na costela, bolsa atochada no baço, de frente de lado
                                                 e no verso


cabeça no braço, recostada
narina nervosa, dilatada
rotina maldita, embaçada
castiga a preguiça
                           aos sopapos


pisada no pé (mal aê, sem querer)
sobra cara feia e tapa, até
a treta infinita
                             : o hábito


e XINGAR não resolve
nem vinte centavos resolve
                          o mal estar diário

Poeta, romancista, autora LIJ, editora, tradutora e professora Bacharel em língua e literatura inglesas, Chris Ritchie é Mestre em poesia, ambos na FFLCH-USP, licenciatura na FE-USP. Gestão Educacional na IH, Londres; CLIPE e Coop da Invenção, Casa das Rosas. Sócia da Ritchie & CO., ativista literária do Livro que Marca, poeta do Fazia Poesia, voz no duo Chris Ritchie & Tanauan.

Poesia

Andorinhas em voo

Existir, como amar, primeiro nos sucede com andorinhas em voo.
Não temos noção do que significam ou como se articulam,
mas faz sentido uma dança de milhares delas no céu.
Depois, pode ser questão de tempo, de estudo
ou de imaginação que alguma coisa se entenda
sobre existir, como amar, com andorinhas em voo.
Pode-se descobrir que o corpo só existe para ser amado,
e que o amor só existe enquanto houver coração:
existir, como amar, estão colados, com andorinhas em voo.
Mas pra tanta gente um século pode passar inteiro
e existir, como amar, se enroscar a uma sucessão de obediências
pra satisfazer alguém que acha que se nasce pra isto:
obedecer. E nada mais faz sentido.
Daí, não é raro um coração ser enterrado
com a grande ideia do amor, como a da existência, vaga,
sem nenhuma andorinha em voo.
A gente se esforça para existir, como amar, ter sentido,
mas, para se alcançar alguma noção sobre essa dança,
o único jeito é amar, como existir, com andorinhas em voo.

Daniela Camargo de Oliveira é medica e escritora em formação na Escola de Escritoras de Débora Porto, com poemas e contos publicados nas coletâneas . Seu primeiro livro publicado foi MOVIMENTOS, pela Editora Minimalismos em 2024.

Poesia

ESCRITORAS

Sim já somos!
Ainda que não escutem, ainda que não leiam.
Já somos, já dizemos. Escrevemos.
Em grandes caldeirões, misturamos letras
E medos, amores, sensações,
Cozinhamos o ódio que nos mirava do alto das colinas.
Ódio que nos queimou vivas,
Enquanto nossas palavras
Sobreviviam em nossas filhas e cadernos de receitas.
E não buscávamos nada além
Da necessidade de resistirmos por nós mesmas,
Nossas existências, nossas mínimas necessidades
E por todas as outras que vieram
Já transformadas em cinzas ou não,
Já doutrinadas e envernizadas ou não,
E pelas que viriam, bruxas em seus quintais,
Com seus banhos e infusões,
Mulheres que diziam, ousadas,
Em um mundo adverso.
Mulheres que liam, falavam, ouviam e discordavam.
Mulheres que se permitiam orgasmos,
Mulheres que seriam apedrejadas,
Rebeldes, inadequadas. Mulheres libertas
E suas palavras… Sim, já somos!

Diego Martins do Nascimento nasceu no dia 31de agosto de 1988 na cidade de Itaquera em São Paulo. Publicou dois livros independentes, “Versos Morfinos” e “Lucidez Onírica”, também é coautor do “O amor é um grito”, “Poesia livre”, “Viva poesia” e da antologia de contos “Eu vi”.

Poesia

Ressurreição eterna

Ante o valor insignificante do sangue
Em presença do universo
A existência incisiva e incompleta
Observa o abismo que a assombra
Onde algo aflige nosso ser

Tecer expressões na pálida folha
Poetizar o insano e onírico
Personificar seus ecos
Dar existência aos silêncios
Vislumbrar uma ilusão
Usufruir da visão maldita e sublime
Perceber a ausente distinção frente ao nada
Pois toda face se turvará as cinzas de seu tempo

Entretanto mesmo que o sonho se deforme
Eleve-se
Ande na fonte de seu espelho
Beije a obscura raiz de seu grito
Afinal somos seres da ressurreição eterna

Eduardo Worschech, nômade literário, escritor que transita entre os universos da filosofia e da arte. Mestre em Educação pela UFSCar.

Poesia

Nem Sempre as Nuvens são tão Claras

Ainda anteontem estive pensando no dia de amanhã, acabei tropeçando em minhas angústias e vim parar no fim da fila.

Insisti na minha estima, que um dia poderia me ferir, e fez mais do que muito, pois me colocou de corpo todo do lado de cá desta linha que não tracei.

Entre vontades e compulsórios, o destino é bastante forte em escolher para mim um belo desastre, sem atrocidades, mas com doses generosas de comédias onde o riso é amarelo.

Euforia pelo esperado, não parece ser assim que alguém desejaria conviver, no caminho mais longo desta trajetória curta.

Em uma sina de se autoflagelar emocionalmente, nunca optei pelo pior, contudo, parece que a água do mar mal consegue cobrir meu corpo, quando adentro este oceano.

Num olhar denso mas que se esgueira do fogo do real e a brasa que alimenta o calor da inquietação, instrui-me sobre as severas queimaduras as quais estaria sujeito; e mantive os caminhos fechados ao trânsito livre da paixão.

Ao tempo que consome, não há crepitação que possa se assemelhar as batidas do coração, com seu compassado afago diante do inesperado.

Ir direto a um ponto com certeza não é como lançar um dardo contra uma imensa previsão, pois ao fardo que carrega na escuridão, com menos certeza se tem de sua própria sujeição.

Se quaisquer que fosse o momento daquela massa de ar frio entrar em confronto contigo, certamente a abundância tomaria o lugar daquela sala vazia, donde o assoalho ainda continua molhado.

Guilherme Balarin mora em Pindamonhangaba, interior de São Paulo; formou-se em publicidade e propaganda; é empresário, escritor, fotógrafo amador, membro da Academia Pindamonhangabense de Letras. Autor do livro de haicais Entre Monções, publicado pela editora Toma Aí Um Poema em 2023. Instagram:@guilebalarin

Poesia

Serei, eu mesmo, o que será

Era o banco que me sentava,
era a cama que me deitava,
era o corpo que me doía,
era a alma que me benzia.
 
Era tudo ao contrário 
do contrário do inverso.
Um universo temerário.
Fui larva, fui pupa, sou disperso.
 
Livre de sonhos intranquilos,
preso em eterna metamorfose,
tropeço em cacofonias.
Assobios, gemidos e sibilos.
 
Não sou gente que já fui,
nem gente que sou que continuaria.
Nada sei do tempo que flui,
certo da saudade que sentiria.
 
Deixarei quebradas poesias preferidas,
cacos vários de pontas e cortes.
À vivência de tantas dores e vidas,
a certeza de outros amores e mortes.

Conheça poetas de outros estados