Poetas Contemporâneos
A categoria Poetas Contemporâneos reúne escritores e escritoras que representam a diversidade e a inovação da poesia atual. Aqui, destacamos poetas contemporâneos que traduzem em versos as questões e as realidades do nosso tempo. Descubra autores que estão moldando a literatura moderna e enriquecendo a poesia brasileira com suas vozes únicas e criativas.
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Professor e escritor residente na região Norte/Amazônia. Abílio Pachêco tem formação acadêmica em Literatura (doutorado na UNICAMP). É professor na Pós-graduação da UNIFESSPA e pós-doutorando estagiário na UFNT (bolsista CAPES). Tem alguns livros publicados. Dentre eles o romance Em despropósito. Em 2013, publicou Canto peregrino a Jerusalém Celeste, que obteve destaque entre os 10 melhores livros de língua portuguesa num concurso Glória de Santana (Portugal).
Amazônia: beleza / tragédia
Quando vi você correndo descalça em direção
à árvore quadricentenária na Ilha do Combú
e depois colocando as mãos espalmadas
na base da samaumeira de mais de 50 metros,
imaginei você trançando os cabelos nos galhos;
conectando-se às folhas e ao tronco igual no Avatar .
Faz 10 anos. Hoje leio os primeiros versos de um poema
que você esboçou quase em lágrimas pela manhã:
“Uma árvore virou cinza na Amazônia.
Inúmeras árvores viraram cinza na Amazônia
nos últimos anos.”
Naquele mesmo dia, coloquei meu ouvido na terra.
Disse a você que escutava o choro das árvores,
O clamor do solo sangrando, de peixes sufocados,
De muitos animais gemendo e convalescendo.
Você me disse que eu não sabia aproveitar a beleza de Gaia,
a energia da floresta, as vozes e os espíritos ancestrais.
Por isso, não lhe disse que também ouvi sons de motosserra,
De árvores crepitando, de pássaros em agonia.
“Nem tudo é tragédia”, você me repreendeu.
“Nem tudo é beleza”, pensei mas não lhe disse.
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Adriene Cruz é natural de Varginha-MG, Especialista em Produção Textual, Licenciada em Letras – Português, atua como Professora na Educação Básica. Autora do livro Paisagens Interiores – Editora TAUP. Acredita no poder da escrita como uma das formas de cura das emoções.
Mulher de Março
Eu não tenho culpa
Ninguém tem culpa
Sou como sou
Pertenço à família dos Sentimentos
Meu sobrenome é Intensidade.
Me ame ou me deixe
A escolha é sua
Mas não me peça
Para dissimular o que sinto.
Meu corpo conduz as águas
Que dos meus olhos escorrem lentas, fluidas.
Que no meu interior,
Quando querem amar
Revolvem-se como as ondas do mar…
Frescor
Repouso
Regalo
O que toca minha pele
Também vibra em minha alma
Assim,
Sou como sou
Pertenço à família dos Sentimentos
Meu sobrenome é Intensidade.
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Aless Jordan graduou-se em letras e cursa mestrado em linguística pela Universidade Federal do Ceará. Apaixonado por literatura, desenvolve pesquisas na universidade sobre Capitães da Areia, clássico de Jorge Amado, além de escrever crônicas, contos e poemas. O fazer literário é a sua grande e permanente paixão!
Farsa
eu vim cansado
pensando formas de dizer
que em mim há mais
que o tom discreto da cor
da camisa
que o tom de voz disfarçado
definhado
de pouca vida
que todas as minhas palavras
talvez sejam mentiras
que o que digo aqui
pode não ser meu
e que aquela frase sincera
outro dia
disse mais sobre
o que não sou
que a música que eu gosto
nunca foi cantada por mim
que a chave que carrego
abre outras portas
mas não abre a porta
da minha casa
que o meu começo
ainda é um fim
e que não confie
por favor
não confie tanto em mim
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Nascido e criado entre Amélia Rodrigues e Feira de Santana, Bahia. Alexandre Paim é graduando em Psicologia na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), estudante de Teatro e de Técnica Vocal no Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA/UEFS), formação em andamento em Análise do Comportamento Clínica no Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC).
quando a chuva passar
três luzes queimadas, minha mãe preocupada, desconforto gastro-cardíaco;
selas e botas, distância quadrada – odeio ver o brilho do azul entre os oitis.
mesmo assim, vi cada gosto seu no corpo de um semideus virtual. como pôde me abraçar planejando voar entre as flechas dele?
meu pai no whatsapp com a incredulidade: o destrono não me tornou indolor.
tua inocência fajuta combinou com a minha surdez conveniente; só não fui competente em isolar variáveis estranhas no meu experimento contra-ético.
invalidado pelo teu afã por homens símeis, ensimesmado e compadecido, não esteticamente envolvido… eu queria te dar um tiro.
meu primo te refere em sorrisos e eu, acovardado, me esquivo; sua misericórdia já me penitencia.
não vou explicar o que houve porque algo não se há de ter havido para que não empreendesse esforço ou arrependimento.
capitães de areia na sua estante e meu prólogo empoeirado em caneta vermelha – você nunca lerá!
eu rezo em dilúvio que meu quarto, meu vinho e meu sangue te manchem, que meu canto te atormente, que meus versos te arrebentem…
que mergulhe e se afogue e eu lhe salve a vida com a mesma letargia que você tirou a minha.
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Amélia Greier recebeu a medalha Adélia Prado da AFEMIL em 2019. Em 2021, participou da publicação do livro “(Con)ciência. Historias de la ciencia brasileña”, promovido pela Universidade de Salamanca em parceria com a FIOCRUZ. Em 2024, venceu o 2º Concurso de Contos PodLetras com o conto “Pano de Fundo”.
Conjugação
Amor nascido às avessas
Tu nasceste primeiro, e eu vim após
Paixão reta, de morfologia travessa
Ele foi pioneiro, e eu nasci sendo nós
Desde o início, indicativos
Olhares, mãos dadas, sorrisos e beijos
Juntos regíamos todos os substantivos
E fizemos histórias conjugando desejos
Então, o sentimento ficou abundante
Paixão invariável, desatino imperativo
Mais-que-perfeito, foras meu modo mais excitante
Na tua presença, tudo era intransitivo
Passados tantos tempos, perdemos os adjetivos
De todos os predicados, só sobrou nossa ligação
Querido, não deixemos nosso amor no subjuntivo
Transformemos todas as sentenças em linda oração
Pois, de primeira, amar foi a mais linda surpresa
Depois, viver contigo foi pura emoção
Se o sentimento é tão lindo quanto a língua portuguesa
Ao invés de partir, façamos do amor a derradeira conjugação
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Ana Gabardo é psicanalista e pedagoga, mora em Curitiba/PR e escreve desde que se lembra de ser gente. Desde cedo, reconhece o imenso compromisso e afeto com as palavras, que para ela são um modo de sobrevivência e de embelezamento da vida. Ela alimenta cotidianamente seu blog (https://www.sonhosemergentes.com/) com escritos sobre a vida e a morte, sobre os mergulhos e as dores e, às vezes, com um pouco de humor.
9 terça-feira
vamos desenrolar essas e outras histórias?
(tensão
estômago cimentado
desde então
não como
e eu que achei que já vivia
a minha
melhor história
ou melhor dizendo
a minha única história possível
como pode uma única pergunta
abrir uma fenda?
encarei a fenda
para ver
o que tinha dentro
era interesse)
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Andréa Zemp Nascimento é mãe dois filhos. Graduada e Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela USP e Mestre em Mediação Cultural e Artística pela Universidade de Artes de Zurique (ZHdK), é autora de “A criança e o arquiteto: quem aprende com quem?” (Annablume; FAPESP, 2015) e do livro de poemas “tecedeira, com verso…” (Helvetia Éditions – Selo do Festival de Poesia de Lisboa, 2024). Tem poemas em diferentes antologias, entre elas “O amor é um grito” (TAUP, 2024).
pélago
ilhada em ferida
não mais em carne viva
deito os cílios
às margens da casca
e vejo:
a pele é vasta
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Andrey Cechelero é Músico, multi-instrumentista, filmamker e escritor de Curitiba, Paraná. Como artista da gravadora AZUL MUSIC já lançou 24 álbuns desde 1998. Como escritor já editou 4 livros. Andrey tem um trabalho intenso nas redes sociais com poemas que falam à alma.
sobre nós
sobre nós
a adaga fria do sofrimento
o mundo das aflições
pesado nos ombros
a todo momento
sobre nós
cem mil newtons de atmosfera,
pressão em todo centímetro quadrado,
cercados de água por todos os lados
curvamo-nos à força
vicissitudes dobram as gentes
e amar demais … igualmente
sofrer também é passar
sofrer é também deixar passado
vencer o atrito e chegar no espaço
do outro lado
do outro lado do espaço
sobre nós
sempre foi
sobre nós.
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Anízio Vianna é poeta e letrista. Publicou oito livros, o mais recente é a plaquete “Desalarmes, escritos de paz” (TAUP). Recebeu o prêmio Cidade de Belo Horizonte com o livro “Dublê de Anjo” (Mazza). Teve seus textos publicados na Espanha, Peru e Portugal.
Litígio
você me acena se queixa se despe
teu problema é quando a gente regressa
tudo tem no máximo um brilho
mas você quer quase sempre o cometa
você me tem como uma pessoa tão linda
— no cinema eu seria o mocinho —
tudo bem você já filmou sua cena
mas o real é a nossa vida pequena
só no sexo é que a gente se ajeita
no teu plexo pousou borboleta
mas tem vezes que somos estranhos:
o real não empresta o que somos
você me atrela ao normal e à cela
traduz pro meu sangue a tua beleza
no canal sempre o mesmo programa
— desconversa a novela e me ama —
você me dá o silêncio da véspera
quando o tempo era a fortaleza
e desconversa os problemas de sempre
e mutante muda a minha linguagem
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Ari Arcilio Carneiro Sales de Albuquerque Júnior, Arcilio Sales, 42 anos, iniciou suas aventuras na poesia aos 10 anos e não parou mais de escrever. Define-se como a paixão que não cessa por tudo o que vive.
Alma de Poeta
No desdobrar do destino,
Joga suas folhas pelo caminho
E o vento embeleza seus passos
Em meio a histórias e devaneios.
Hoje fora andarilho,
Queda d’água a molhar-se
Na imensidão de pensamentos,
Coração ávido de desejos.
Ontem se fez conciso,
Calculando o elixir
Das poções que distribuíra
Aos amantes em busca de sonhos.
Amanhã metamorfose-á
Em bicho pequenino
Buscador dos menores espaços,
Fuçador de tudo que é diminuto.
Prepara sua tinta,
E no desdobrar dos caminhos,
Suas folhas se lançam,
Junto à alma do poeta.