Poetas – Pessoas com Deficiência

Poetas – Pessoas com Deficiência

Poetas - Pessoas com deficiência

A categoria Poetas – Pessoas com Deficiência reúne escritores e escritoras que representam a diversidade e as experiências de pessoas com deficiência na poesia. Aqui, destacamos poetas que traduzem em versos suas vivências, desafios e perspectivas únicas. Descubra autores contemporâneos que enriquecem a literatura com suas vozes autênticas e inspiradoras.

Alice Puterman

Nascida em 2002, no Rio de Janeiro. Algumas coisas me definem: uma longa batalha contra a doença mental, a sobrevivência às violências sexuais, e a deficiência. Não mais do que tudo e todos que amo. Sinto saudade. Ponto. Saudade de tudo. Aquele misto de afeto com dor, sabe? Acho que se eu fosse um sentimento, é este que eu seria. Talvez, eu já seja. Candura — uma história de sobrevivência feminina, é seu livro de estreia (TAUP, 2025).

Poesia

só vou morrer
depois que
uma voz gasta
rouca
e sem dono
escorrer boca afora

a mesma boca
que quando esperava um primeiro beijo
foi usada de tantas outras maneiras
e ficou com um não regurgitado na garganta
sem cuspe

que esta boca
espante toda
palavra morta
e parte imunda
que entala como grão de areia após a praia
em quinas sombrias da sala de estar

vou urrar até a dor se render
até minha voz virar eco
e eu rasgar
cada caco de mim
que se culpa
por homens que tomam corpos
e brotam dores

só saio dessa vida
com a garganta em carne viva

Anizio Vianna

Anízio Vianna é poeta e letrista. Publicou oito livros, o mais recente é a plaquete “Desalarmes, escritos de paz” (TAUP). Recebeu o prêmio Cidade de Belo Horizonte com o livro “Dublê de Anjo” (Mazza). Teve seus textos publicados na Espanha, Peru e Portugal.

Poesia

Litígio

você me acena se queixa se despe
teu problema é quando a gente regressa
tudo tem no máximo um brilho
mas você quer quase sempre o cometa

você me tem como uma pessoa tão linda
— no cinema eu seria o mocinho —
tudo bem você já filmou sua cena
mas o real é a nossa vida pequena

só no sexo é que a gente se ajeita
no teu plexo pousou borboleta
mas tem vezes que somos estranhos:
o real não empresta o que somos

você me atrela ao normal e à cela
traduz pro meu sangue a tua beleza
no canal sempre o mesmo programa
— desconversa a novela e me ama —

você me dá o silêncio da véspera
quando o tempo era a fortaleza
e desconversa os problemas de sempre
e mutante muda a minha linguagem

Escritora contemporânea, escreve sobre gênero e suas multiplicidades. É paulista, mulher lgbt e pessoa com deficiência oculta. Mãe de pets e de plantas, atualmente, vive em São José dos Campos.

Poesia

Enxaguando a mente

Mãe, faz um pix?
Maria coloca roupa para lavar.
Maria, onde está meus sapatos?
Maria adiciona o sabão.
Mãe, o almoço tá pronto?
Maria enxagua.
Você devia ficar em casa no sábado com sua família.
Maria esfrega as roupas com rapidez.
Maria, você está lavando roupa de novo?

Submissa Maria não é
Mas retrucar pra quê?
Uma faísca pode gerar um incêndio
Maria não quer queimar nada
O que ela quer é paz.

Maria José de Melo

Maria José de Melo é natural de São Caitano, município do Agreste de Pernambuco e atualmente reside em Jaboatão dos Guararapes (PE). É escritora, geógrafa, colunista e poetisa. Autora do livro: A Renda Fundiária na transposição do Rio São Francisco (Índica/2021) e A Jitirana Poética (Toma Aí Um Poema/2023).

Poesia

RECIFE DO MANGUE BEAT

Recife é a Veneza Brasileira
Com suas belas pontes
Expendida na beleza
Do encontro do rio com o mar
Recife, berço cultural na tradição nordestina
Nas veredas da poesia popular
Ela é braba e regional

Recife, na inconformidade de uma cidade lama
Na insularidade social, fez-se ilha e desigualdade
Recife se fez ponte sobre o mangue
Enaltecido no ritmo, no som e na melodia
Do Mangue Beat

O caranguejo com cérebro
Anunciou miséria e caos
Fruto de um movimento vivo
O manifesto que misturou o tradicional com o moderno
Assim, Recife deixou de ser marasmo cultural

Recife, poesia viva
No circuito regional e universal de
Naná Vasconcelos, Luiz Gonzaga, Ariano Suassuna,
Clarice Lispector, Celina de Holanda,
Joaquim Cardoso e cia
Assim, nossa identidade nos faz regionalista.

Paulistano de 18 anos, é escritor e poeta em início de trajetória. Aborda em seus poemas temas existenciais e sentimentais, procurando explorar as palavras e seus silêncios.

Poesia

Os dentes e os chifres

Eu sou Tudo. E nesse Tudo sou
—Também— Todo seu Oposto.
O avesso — do meu rosto,

— Remonto-me; —
Troca-peles—troco o osso.
Minha própria imagem e semelhança.

Aprisiono a Ti— Corpo
que não possuo.
Me esgarro em Ti, como um grunhido mudo.

Isso sorri para mim no escuro.
Os Dentes — mordem a gengiva
Me afoga—Tamanha Agonia.

Agora; eu sou a caça: veado troca-peles.
Vitima— Ptolemaea; Devoro o caçador.
Perco o reflexo no espelho

Sou Tudo, Sou Oposto — Sou o peso. —.
Sem receio
O corpo em meus chifres—Me ergo.

Nina Carneiro

Nina Carneiro é poeta, compositora e artista autista. É autora dos livros “Devaneio Coerente” (Filos, 2021) e “No limiar do espectro” (Filos, 2024), e também conduz um projeto musical chamado Nina and The Infinite Universe.

Poesia

Princípio hermético

– Estamos aqui –
Disseram as formigas
tão pequenininhas
sobre a mesma terra
na qual caminhamos

– Estamos aqui –
Disseram as estrelas
sem-nome e distantes
no mesmo infinito
no qual existimos

Formigas e estrelas
fazendo poesia
Aqui e acolá:
o mesmo lugar
que é este universo

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