A poesia de Marta Cortezão

Marta Cortezão

Marta Cortezão natural de Tefé/AM. Reside em Segóvia/ES desde 2012. Poeta, feminista, antirracista, antifascista. Livros de poesia publicados: Banzeiro Manso (Porto de Lenha Editora, 2017), Meu silêncio lambe tua orelha, Aljavas para Cupido (e-book) ambos pela TAUP, 2023, Amazonidades: gesta das águas (TAUP, 2ª ed. 2024). Organizadora das coletâneas Enluaradas.
Instagram @martacortezaopoeta

Poesia

as hortênsias

o que sabem de mim estas hortênsias?
o que guardam elas de meus segredos
em seus pés robustos e lenhosos?
espreitam-me com seu centenar de olhos neon-violáceos
invadem-me as memórias com garras de harpias
aprisionam-me em sua forma ovoide e periférica
piso a terra úmida e meus dedos largos
se espalham como raízes no seio de Gaia e energizam meu útero lunático
sinto-me diminuta e transparente como um micróbio
vejo uma envelhecida e venosa mão
a profanar o sagrado templo das hortênsias
meu corpo rememora a dor da defloração sofrida…
uma ventania sopra ferozmente movimentando a vegetação ao redor
e uma chuva pedregosa cai em nosso socorro!
bebo também da sabedoria pluviosa das nuvens
abro os olhos refrescada pelo alívio de estar viva
as hortênsias ainda estão aqui e sabem de tudo
: não sou nada, absolutamente nada
sequer o pó que o vento sopra sem destino
mas quando unidas invocamos tempestades

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