Marcelo Ariel é poeta, ensaísta e teatrólogo. Nascido em Santos-SP, Brasil em 1968. Autor de Tratado dos Anjos Afogados (Letra Selvagem), Ou o Silêncio Contínuo poesia reunida 2007-2019 (Kotter Editorial-Prêmio Biblioteca Nacional 2020), Nascer é um incêndio ao contrário (Kotter, 2020) e Subir pelo Inferno, descer pelo céu (Kotter Editorial, 2021), As três Marias no quadro de Jan Van Eick (Fósforo/Luna Parque/Círculo de Poemas-2022, Arcano 13 (Com Guilherme Gontijo Flores – Editora Quelônio-2022), Escudos- Cinco R.A, Ps e um samba escritos com Cruz e Sousa seguido de A vida de Clarice Lispector (Arte & Letra,2023), entre outros. É colaborador das revistas Quatro Cinco Um, EGaláxia e Cult e como autor convidado do Laboratórios de Criação — Escrita de Literatura e Teoria dentro do Programa de Estudos Comparados de Literatura Portuguesa (Pós-Graduação da Universidade de São Paulo, Letras/FFLCH) em 2022 compôs o júri do Prêmio Jabuti. No teatro seus trabalhos mais recentes foram: VILA PARISI, dramaturgismo para o Coletivo 302 de Cubatão, peça/ grupo vencedores do Prêmio Shell, 2023. TRANS- MITO MAKUNAIMÃ Direção, Dramaturgismo e Concepção. Baseada na peça teatral coletiva escrita por ele, Jaider Esbell, Deborah Goldemberg, Cristino Wapichana e outros com Filipe Roseno, Deborah Goldemberg, Amaury Oliveira e outros Sesc Interlagos, 2021. RELÂMPAGOS NUM DIA CLARO Contra história descolonial do Brasil, Texto e direção com Pascoal da Conceição, Martha Nowill,Maria Manoela, Fabia Mirassos, Aury Porto e outros. Museu do Ipiranga/ Sesc Ipiranga, Evento especial de reabertura do Museu, 2022. Coordena desde 2016 cursos livres de escrita, poética e filosofia em São Paulo.
Re Iluminações III
No bosque, tem um pássaro, seu canto faz vocês pararem e enrubescer.
Tem um relógio, que não soa.
Tem um brejo, com um ninho de bestas brancas.
Tem uma catedral que desce e um lago que sobe.
Tem um carro abandonado entre arbustos, ou que desce o canteiro correndo, embrulhado.
Tem uma trupe de pequenos atores vestidos para o espetáculo, foram avistados na estrada através dos limites do bosque.
Tem enfim, quando temos fome e sede, alguém que nos caça.
No Bosque interior ? Trata-se obviamente da imanência…
Nada de fugas provisórias, o canto dos pássaros está no lugar do relógio.
O haver do brejo oceânico e a sobrenatureza dos ninhos com ‘ as bestas brancas’, é logo ali…
O que buscar em uma Catedral que afunda justamente porque o céu começou cair, não como um Reino, como uma pedra de ausência, enquanto o lago sobe ‘ como nuvem socrática’ na Palestina, é o destino da água como proposição, principalmente da água em nós.
Em guarany para pronuciar ‘ água’ diz-se Y’y’ ela é o som da reentrância, a água é um orgão interno-externo, contra a teologia, cronologia e o capital : a água !
Os carros terão o mesmo destino das esquifes russo-americanas e relógios de ouro, soterrados dentro de selvas desconhecidas.
A trupe de atores, como em ‘ O sétimo selo’ de Bergman ou como um devir possível dos moradores de calçada, ciganos absolutos do quilombo imanente móvel !
Ah, as guerras da fome e as guerras da sede !
Fusão de levantes convertendo a água em guerra.
Rimbaud/Marcelo Ariel/ Larissa Drigo Agostinho