A poesia de Eduardo Worschech

Eduardo Worschech

Eduardo Worschech, nômade literário, transita sem titubeios pelas vias da educação, velejando no mesmo barco dos filósofos e a estibordo dos poetas. Formado em filosofia pela Unesp, Mestre em Educação pela UFSCar.

Poesia

Nem Sempre as Nuvens são tão Claras

Ainda anteontem estive pensando no dia de amanhã, acabei tropeçando em minhas angústias e vim parar no fim da fila.

Insisti na minha estima, que um dia poderia me ferir, e fez mais do que muito, pois me colocou de corpo todo do lado de cá desta linha que não tracei.

Entre vontades e compulsórios, o destino é bastante forte em escolher para mim um belo desastre, sem atrocidades, mas com doses generosas de comédias onde o riso é amarelo.

Euforia pelo esperado, não parece ser assim que alguém desejaria conviver, no caminho mais longo desta trajetória curta.

Em uma sina de se autoflagelar emocionalmente, nunca optei pelo pior, contudo, parece que a água do mar mal consegue cobrir meu corpo, quando adentro este oceano.

Num olhar denso mas que se esgueira do fogo do real e a brasa que alimenta o calor da inquietação, instrui-me sobre as severas queimaduras as quais estaria sujeito; e mantive os caminhos fechados ao trânsito livre da paixão.

Ao tempo que consome, não há crepitação que possa se assemelhar as batidas do coração, com seu compassado afago diante do inesperado.

Ir direto a um ponto com certeza não é como lançar um dardo contra uma imensa previsão, pois ao fardo que carrega na escuridão, com menos certeza se tem de sua própria sujeição.

Se quaisquer que fosse o momento daquela massa de ar frio entrar em confronto contigo, certamente a abundância tomaria o lugar daquela sala vazia, donde o assoalho ainda continua molhado.

A Mercê de seu Olhar

Ao mecanismo da imitação, incrível maquinaria de suposições e assemelhamentos, de liberdade limitada ao poético do olhar, que parece emergir sem espectro de manifestação sentida, que faz com que varie-se os fatos, a depender deste olhar que vê.

Olhos que de fato veem invertido, como já sabido por Leonardo da Vinci; falta então a não óbvia decifração, que aos gregos já era conhecida esta presença magistral, como figura mítica, que devorava todo aquele que simplesmente via, sem de fato entender.

Transcendência física e espiritual, através da janela que se abre, é possível avistar tudo aquilo que a penumbra espessa das memórias não recobre, e em otimismo realista, pode-se ressignificar o antes visto como um novo amanhecer.

Não sem um impacto floreado, este jogo torna-se duplamente exaustivo, pois cada passo faz enrijecer esta prisão relacional, enquanto que a liberdade vem gradeada por um encanto nada saudável, de fluxo ansioso de paradoxal estabilidade.

Soma-se a isso um frágil equilíbrio, composto de linhas invisíveis que sobredeterminam padrões de fragmentação, beleza demarcatória de um cristal, e como um impacto faz emergir suas linhas de clivagem; pressão e reação, estrutura da personalidade em um piscar.

Quão incompleto pode ser o imagético fruto dos resíduos mnemônicos ópticos, pois sua materialidade só ganha musculatura na presença da língua falada, da escolha nada consciente das palavras.

Está provável e possível superação pela ruptura com as resistências neuróticas, fator de impedimento das vontades livres, produz um efeito emancipatório no desejo, e capacita o indivíduo em suas potências de elaboração; menos vulneráveis aos estímulos visuais.

Ao redesenhar o todo visto em palavras, os afetos puderam pouco a pouco se rearranjar, tornando passível de ser sentido, sem que toda uma cobertura idealista pudesse subsumi-la.

Ao temor do amor, perde-se força, pois tê-lo descoberto de suas marcas indeléveis, guardadas com esmero por insuspeita proteção, fez com que as portas novamente pudessem ser abertas; e a luz mais uma vez triunfou, chocando-se finalmente com seus desígnios essenciais.

Compartilhe: