A poesia de Deyse Lima

Deyse Luiza Lima

Gaúcha, publicitária, escritora e mãe solo. Autora de dois livros infantojuvenis, dedica-se também à literatura de ficção autobiográfica. Escreve a partir da experiência, do que arde e permanece. Sua escrita é território de memória, de afeto e de coragem.

Poesia

Solo

A cidade girava — alheia ao seu ser.
Ela — estátua — atônita.
O metrô partia com seus pedaços,
e o tempo, tirano disfarçado de rotina.
Nos pés, a pressa herdada das urgências alheias.

Mãe solo. Não por ter gestado só, depois de uma relação falida,
mas por ser — dia após dia — esquecida.

Caminhava entre vozes que não a chamavam,
Queria — talvez — um toque. Um esbarrão.
Um sussurro casual que dissesse: “Eu te vi.”

Ela veste — a roupa que lhe cabe há oito anos:
sua personagem-mãe.

E há tantas… tantas Olívias por aí.
Que correm, como ela,
sem tempo de se esbarrarem.
Fortalezas ambulantes,
com trincheiras no peito.
Procurando por pertencimento.

Solo. No sentido mais humano da palavra.
Solo — entre o abismo da plenitude
e a margem da ausência.
A esperança — ainda que tênue
de reencontrar-se inteira.
Um dia. Quem sabe.

Compartilhe: