Cecília Zugaib participou de diversas antologias no Brasil e na Suíça. Foi finalista no Festival de Poesia de Lisboa 2024 e fez parte do Festival Zürich liesst com a instalação da Zwischentext. Lançou os livros de poesia Fina Linha e Khalas em 2024. Atualmente, trabalha em dois livros de haiku e um de contos.
Processo
Dizem que, para curar,
há de se chorar,
ir até o fundo, tomar impulso,
se reinventar,
voltar à tona,
receber o tempo como um abraço,
aceitar o passado,
traçar planos,
não pensar,
cultivar hábitos saudáveis,
exercitar-se, dormir muito,
estar com amigos,
meditar.
Curar é processo.
A dor pulsante
corta a alma,
marea os olhos,
seca a boca.
Curar é tempo em câmara lenta,
é silêncio incômodo
que não acha posição confortável,
é exaustão que te adormece,
o caminho necessário.
Vermelho no branco
Desolação,
se saísse,
seria um urro do abdômen
um soco na parede
o vermelho no branco
uma mordida na carne
o branco no vermelho
as lágrimas escorrendo
o vermelho invadindo o branco
o poema no papel
o vermelho – todo o vermelho –
no branco.