Professor e escritor residente na região Norte/Amazônia. Abílio Pachêco tem formação acadêmica em Literatura (doutorado na UNICAMP). É professor na Pós-graduação da UNIFESSPA e pós-doutorando estagiário na UFNT (bolsista CAPES). Tem alguns livros publicados. Dentre eles o romance Em despropósito. Em 2013, publicou Canto peregrino a Jerusalém Celeste, que obteve destaque entre os 10 melhores livros de língua portuguesa num concurso Glória de Santana (Portugal).
Amazônia: beleza / tragédia
Quando vi você correndo descalça em direção
à árvore quadricentenária na Ilha do Combú
e depois colocando as mãos espalmadas
na base da samaumeira de mais de 50 metros,
imaginei você trançando os cabelos nos galhos;
conectando-se às folhas e ao tronco igual no Avatar .
Faz 10 anos. Hoje leio os primeiros versos de um poema
que você esboçou quase em lágrimas pela manhã:
“Uma árvore virou cinza na Amazônia.
Inúmeras árvores viraram cinza na Amazônia
nos últimos anos.”
Naquele mesmo dia, coloquei meu ouvido na terra.
Disse a você que escutava o choro das árvores,
O clamor do solo sangrando, de peixes sufocados,
De muitos animais gemendo e convalescendo.
Você me disse que eu não sabia aproveitar a beleza de Gaia,
a energia da floresta, as vozes e os espíritos ancestrais.
Por isso, não lhe disse que também ouvi sons de motosserra,
De árvores crepitando, de pássaros em agonia.
“Nem tudo é tragédia”, você me repreendeu.
“Nem tudo é beleza”, pensei mas não lhe disse.